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Governança ambiental avança no país com cooperação inédita para o fechamento de Minas

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A Agência Nacional de Mineração (ANM) e a Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (FEAM) firmaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) voltado à gestão do fechamento de minas e reabilitação de áreas degradadas no estado. O documento foi assinado durante o Workshop Internacional sobre Fechamento de Minas e Minas Abandonadas, realizado entre 30 de junho e 4 de julho, em Belo Horizonte, promovido pela ANM em parceria com o Fórum Intergovernamental sobre Mineração, Minerais, Metais e Desenvolvimento Sustentável (IGF).

Com validade inicial de 36 meses, o ACT estabelece uma agenda integrada entre ANM e FEAM para aprimorar a análise de planos de fechamento, promover vistorias e fiscalizações conjuntas, além de facilitar o intercâmbio de dados e capacitações técnicas. A parceria surge em um contexto crítico: Minas Gerais concentra mais de 500 minas inativas, sendo 119 classificadas como abandonadas.

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Visita de campo durante o evento. Foto divulgação ANM.

Durante a abertura do evento, o diretor da ANM, Roger Romão Cabral, destacou o papel estratégico da cooperação para o futuro da mineração no Brasil:

“Este Acordo representa um marco para a governança da mineração no país. Estamos alinhando procedimentos, unificando esforços e fortalecendo a cooperação com um dos estados de maior relevância mineral do Brasil. A integração com a FEAM é fundamental para avançarmos em um modelo mais eficiente e seguro de fechamento de minas.”

Roger Cabral é especialista no tema de fechamento de minas e possui ampla experiência técnica e institucional, tendo acompanhado de perto as práticas adotadas em países como Canadá, Austrália, Chile e Alemanha. Esse conhecimento direto de modelos internacionais de reabilitação de áreas mineradas fortalece a atuação da Agência no desenvolvimento de políticas públicas eficazes para o Brasil. Segundo o diretor, o fechamento planejado e responsável de minas é essencial para mitigar impactos ambientais, proteger as populações afetadas e garantir maior previsibilidade econômica ao setor. A agenda do fechamento não apenas melhora a governança socioambiental da mineração, como também contribui para uma atividade mais responsável, transparente e alinhada aos compromissos do Estado com a sociedade.

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O diretor-geral da ANM, Mauro Sousa, destaca que o tema do fechamento de minas representa uma das agendas mais emblemáticas do papel estratégico da Agência, ao integrar segurança técnica, responsabilidade socioambiental e governança pública dos recursos minerais. Segundo ele, a adequada condução desse processo estabelece as bases para um encerramento ordenado do ciclo de vida da mina, assegurando a recuperação das áreas impactadas e a sua destinação para novos usos.

“O fechamento de mina é um marco na relação entre o setor mineral e o Estado brasileiro. É nesse momento que se consolida o compromisso com a responsabilidade social, a proteção ambiental e a valorização do bem público. A ANM atua para que o processo ocorra com rigor técnico e previsibilidade, respeitando o interesse coletivo e os comandos da Constituição.”

Exemplos bem-sucedidos de reabilitação de áreas reforçam o potencial desse processo. O Parque do Ibirapuera, em São Paulo, foi construído sobre uma antiga área de mineração de areia e argila, e hoje é um dos espaços públicos mais icônicos do país. Em Curitiba, a Ópera de Arame transformou uma antiga pedreira em um dos principais cartões-postais da cidade.

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Ópera de Arame – Vale da Música/ Fonte – Adobe Stock

O diretor de Gestão de Barragens e Recuperação de Área de Mineração e Indústria da FEAM, Roberto Gomes, reforçou o alinhamento com as metas estaduais de sustentabilidade:

“A reabilitação das áreas mineradas é uma prioridade para Minas Gerais. Esse ACT com a ANM permitirá a união do conhecimento técnico, ferramentas e fiscalização para melhorar a resposta institucional diante dos desafios ambientais e sociais que o setor representa.”

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O evento internacional reuniu servidores da ANM de todas as regiões do país, especialistas do Brasil, Canadá e Austrália, representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), das fundações ambientais dos estados do Pará e Rio Grande do Sul, além do Ministério Público Federal de Minas Gerais.

Com coordenação da recém-criada Divisão de Fechamento de Mina (DIFEM/COFAM/SFI), a capacitação teve como destaque a visita técnica à Mina de Águas Claras, da empresa Vale, além de estudos de caso, oficinas sobre garantias financeiras, fiscalização ambiental e engajamento das comunidades afetadas.

Segundo o chefe da DIFEM, Fábio Perlatti, “o ACT potencializa o uso racional de recursos públicos e amplia nossa capacidade de fiscalização, especialmente em relação às minas paralisadas ou abandonadas, promovendo segurança jurídica e ambiental”.

O Acordo também se articula com outras parcerias estratégicas da ANM, como o ACT firmado com Ibama e ICMBio, em 2024, para integrar ações de regularização e fiscalização ambiental no setor mineral.

A celebração está em conformidade com a Portaria SEGES/MGI nº 1.605/2024 e com o Decreto nº 11.531/2023, que regulam parcerias entre entes públicos sem repasse financeiro, mas com foco em cooperação técnica e planejamento conjunto.

Com essa iniciativa, ANM e FEAM reforçam o compromisso com uma mineração ética, responsável e sustentável, colocando o Brasil na vanguarda das boas práticas internacionais no fechamento de minas.

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Como a China dominou minerais críticos da transição

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Tecnologias modernas têm como peças-chave 17 elementos da tabela periódica: as terras raras, essenciais para inteligência artificial, chips, bombas e produção de energia limpa. A China domina a produção, define preços e transforma esses metais em moeda geopolítica.

A mineração é apenas o primeiro passo. O maior desafio está no processamento, separação e refino dos elementos, que são caros e complexos.

A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) estima que a China seja responsável por cerca de 61% da produção de terras raras e 92% do seu processamento. É justamente isso que confere ao país uma posição de força no tabuleiro da geopolítica.

As terras raras também são importantes para sistemas de defesa avançados, como fabricação de jatos militares, mísseis e sistemas de radar.

Isso garante à China um poder de barganha. Em resposta às tarifas impostas por Donald Trump, por exemplo, a China restringiu exportações de certos elementos, o que coloca as indústrias americanas de ponta em risco, como a de veículos elétricos o que coloca as indústrias americanas de ponta em risco, como a de veículos elétricos e a de defesa.

Não foi a primeira vez que terras raras entraram no centro de disputa dos EUA. Em 2022, Trump chegou a negociar com a Ucrânia a extração desses minerais em meio às conversas sobre um possível acordo de paz com a Rússia, ainda nos primeiros meses da guerra.

Hoje, países correm para diversificar suas fontes de suprimento e fortalecer suas próprias produções. “Mesmo antes do governo Trump, a Europa já havia acendido o alerta para os riscos da dependência externa de minerais estratégicos”, diz Júlio Nery, diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

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A ascensão chinesa

A China reconheceu o valor estratégico das terras raras nos anos 1960, quando os Estados Unidos ainda dominavam o mercado. Desde então, começou a copiar o modelo americano e comprou empresas estrangeiras – inclusive a maior empresa americana de ímãs de terras raras, a Magnequench.

Isso permitiu que a China tivesse em mãos as patentes, equipamentos e expertise técnica.  Nos anos 1990, o então líder chinês Deng Xiaoping (1904-1997), fez uma declaração que ficou famosa: “O Oriente Médio tem petróleo, a China tem terras raras.”

O investimento nesses minerais tornou-se uma estratégia de Estado. O país buscou consolidar a indústria, reduzindo-a para seis grandes empresas, em uma campanha chamada de “guerra secreta” contra a produção ilegal.

Também foram feitos investimentos em mapeamento geológico, a primeira etapa para o desenvolvimento da mineração, diz Guilherme Sonntag Hoerlle, geólogo e professor da Universidade Federal do Paraná.

“Há mais de 25 anos, a China investiu pesado em pesquisas nesses depósitos. Não porque tivesse reservas muito maiores, mas porque o governo chinês enxergou o potencial de longo prazo e manteve consistência”, diz.

Hoje, a China também tem consolidadas indústrias de carros elétricos, turbinas eólicas e robótica, que criam demanda interna significativa para terras raras e contribuem para gerar mais valor na cadeira.

Descaso ambiental

Esses avanços foram possíveis, em grande parte, porque a China operou sob quase nenhuma regra ambiental.

O processo de lixiviação (método químico usado para separar minerais), por exemplo, é feito em pilhas – o minério é empilhado e a solução química escoa dissolvendo os elementos; ou in situ, quando a reação é injetada diretamente no corpo mineral no próprio local.

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As soluções usam ácidos fortes, como sulfúrico, nítrico ou clorídrico, que podem se infiltrar no solo e contaminar água e ar. O processo também exige grandes volumes de água e gera resíduos sólidos que, se não forem tratados, se acumulam como passivo ambiental. Um dos casos mais emblemáticos é o lago de rejeitos tóxicos em Baotou, na Mongólia Interior.

A separação e o refino de terras raras usam mais energia que a mineração inicial. A estimativa é entre 9 e 13 vezes a mais para cada tonelada processada.

Agora, países como Japão, Austrália, Canadá e Arábia Saudita vêm estabelecendo limites em suas políticas de minerais críticos, para não depender só da China, segundo Nery, do Ibram. Nesse cenário, o Brasil teria uma “janela de oportunidade” comercial.

“Se criar as condições necessárias, [o Brasil] pode avançar na cadeia de valor e estimular a industrialização local”, diz.

O domínio chinês gera incertezas para investimentos em novas minas e refinarias em outros países. A imprevisibilidade do mercado e a manipulação de preços tornam esses projetos arriscados e afastam capital de companhias no ocidente.

As descobertas de minerais e os processos de extração são de alto risco e investimento. No caso do Brasil, apenas uma mina extrai e exporta – para a China – um produto mais “puro” de terras raras, sem a separação de cada elemento.

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