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OPINIÃO

Falta de profissionais na ANM afeta futuro da emissão de títulos minerários

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BLOG MINERAÇÃO

 

Antes de ser a Agência Nacional de Mineração (ANM), o órgão regulador do setor se chamava Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Criado em 6 de julho de 1949, por meio da Lei n° 2.358, o DNPM tinha como objetivo regular a atividade mineral, incluindo pesquisa, lavra e comercialização de minerais no Brasil. O órgão era vinculado ao Ministério da Agricultura e foi responsável por licenciar, fiscalizar e acompanhar as atividades de exploração mineral no país. Em 2000, o DNPM foi incorporado à Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Agência Nacional de Mineração (ANM) foi criada em 7 de agosto de 2019, por meio da Lei n° 13.705, em substituição ao Departamento Nacional de Produção Mineral com o objetivo de regulamentar e fiscalizar as atividades de mineração no Brasil. A ANM tem como missão promover a competitividade e a sustentabilidade da indústria mineral brasileira, além de assegurar a proteção ambiental e o uso eficiente dos recursos minerais. É vinculada ao Ministério de Minas e Energia e tem competência para aprovar planos de mineração, conceder licenças de pesquisa, lavra e comercialização de minerais e fiscalizar as atividades mineradoras no país.

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Mas não é de hoje que o órgão regulador da mineração passa por dificuldades. Após o rompimento da barragem da mina do feijão em Brumadinho-MG, em janeiro de 2019, a agência admitiu em documento oficial que consome cerca de 80% dos recursos recebidos em gastos administrativos e que a liberação paulatina de verba pelo Governo Federal dificultou o cumprimento de seu papel.

Em dezembro de 2021 a ANM lançou o edital para provimento de 40 vagas para especialista em recursos minerais onde sua principal função seria a fiscalização das barragens, porém número muito inferior à quantidade de barragens registradas no país, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Até 2019 havia cerca de 5.700 barragens registradas no país, número que pode ter mudado devido a novas construções ou desativação de barragens.

No início de 2023, a ANM sofreu outro grande impacto: o presidente da República sancionou a Lei Orçamentária Anual (LOA) para este ano (Lei 14.535, de 2023). O presidente Lula vetou cerca de R$ 4,2 bilhões em despesas propostas, além do provimento de 512 cargos federais, sendo 417 em seis universidades federais de cinco estados e 95 na Agência Nacional de Mineração. Segundo dados de janeiro, obtidos pela Lei de Acesso à informação, a ANM consta com 1.749 cargos. Deste total, apenas 508 estão ocupados. O montante de 1.241 cargos vagos corresponde a 71% da força de trabalho projetada para a agência. Distribuição da dos cargos vagos:

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Cargo Especialista em regulação Técnico em regulação Técnico administrativo Analista administrativo Especialista em geologia Total
Qtde. 565 424 130 122 0 1.241

Segundo o Sinagências (Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação), além da falta de pessoal, os funcionários da Agência Nacional de Mineração têm média salarial 49% menor que a das outras dez agências reguladoras.

Mesmo com essa escassez de profissionais, a ANM apresenta resultados excelentes ao setor mineral, porém não investir em recursos humanos nos próximos anos poderá causar um colapso na emissão dos títulos minerários por exemplo. Confira as estatísticas do setor da mineração.

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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