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Mineração não é garimpo ilegal

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*Por Ricardo Padilla de Borbon Neves

 

Até 2028 a indústria da mineração pretende elevar em 62,7% os investimentos em projetos socioambientais. Eles representam a segunda maior parcela dos investimentos setoriais previstos até 2028. Os projetos de minério de ferro devem receber os maiores aportes, com cerca de US$ 17 bilhões até 2028 além de minerais críticos para a transição energética, como terras raras, lítio, titânio, entre outros.

No Brasil, a indústria da mineração fechou março com mais de 214 mil empregos diretos, com a criação de quase 4 mil novas vagas de novembro de 2023 a março deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração, o IBRAM.

Mesmo trazendo divisas ao país, exportações, aos estados, gerando emprego e renda, nem todos enxergam os muitos benefícios do setor mineral, tanto que se nota um esforço na direção errada, a de prejudicar ao invés de estimular esta indústria.

Há projetos de lei preocupantes tramitando de forma célere no Congresso Nacional expandindo o garimpo, dando margem para práticas ilegais até mesmo sobre áreas já concedidas para mineradoras e em áreas de conservação.

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Caso sejam aprovados, esses projetos podem dar origem a várias ‘Serras Peladas’ pelo país, repleto de histórias trágicas e gerador de um enorme passivo ambiental. Um deles é o projeto de lei 957/2024, que modifica o Código Mineral permitindo a Permissão de Lavra Garimpeira de superfície, concomitante a direitos pré-existentes e na mesma área de quem tem autorização para mineração. Em resumo, a proposta visa legalizar a invasão e ocupação de áreas concedidas as mineradoras.

Porém, o garimpo não precisa ser autorizado a atuar em áreas já concedidas para a mineração empresarial! Há milhares de áreas em disponibilidade para serem leiloadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Conforme o IBRAM, o país tem 80 mil áreas disponíveis para inclusão nos editais de oferta pública com disponibilidade para exploração mineral. Deste total, 3.575 em Mato Grosso.

Enquanto permanece eivada de preconceitos e segue a confusão entre o garimpo ilegal e a atividade séria da mineração, o setor segue entre um dos mais investe no país.

primeiro trimestre de 2024, o setor de mineração teve faturamento de R$ 1,4 bilhão em Mato Grosso, uma queda de 8% em relação ao mesmo período de 2023, quando atingiu R$ 1,5 milhão. O Estado está na contramão do país que aumentou em 25% o faturamento, saltando de R$ 54,6 bilhões para R$ 68 bilhões. Com isso, o estado contribui apenas 2% com os ganhos nacionais com a atividade.

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 *Ricardo Padilla de Borbon Neves é empresário

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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