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Mineração no fundo do mar pode acontecer a 370 km das praias do litoral de SP

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Quantos segredos ainda nos reservam as profundezas dos oceanos? A humanidade está prestes a novamente se lançar rumo ao desconhecido. Mais precisamente, ao fundo do mar, onde repousam gigantescas jazidas de minerais como cobre, cobalto, manganês e níquel. Esse tesouro é alvo da cobiça de pequenas ilhas-nações isoladas e pobres, aliciadas pelos interesses de grandes mineradoras multinacionais.

Resta saber qual será o impacto dessa aventura na sua, na minha, na nossa praia, o ambiente mais democrático do mundo, onde ricos empresários desfilam de sunga, tanto quanto pobres ambulantes que mascateiam bugigangas, entre a avenida e o mar.

Ambientalistas alertam que essa ‘caça ao tesouro’ no lar de baleias, peixes e pinguins deverá causar impactos tão grandes quanto as riquezas que repousam sob o assoalho marinho.

E o Brasil é protagonista nos debates que começaram na última segunda-feira, durante a assembleia da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, em inglês), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). O evento acontece na Jamaica até 2 de agosto.

Essa ‘caça ao tesouro’ ganha tração com a transição do petróleo para energias limpas, carbono-zero. E pretende suprir a demanda por matéria-prima para baterias dos veículos elétricos, painéis solares e, também, telefones celulares.

A princípio, essa mineração está prevista para acontecer em águas internacionais. Essas ‘águas sem pátria’ ocupam 71% dos oceanos e ficam a partir de 370 quilômetros em linha reta das praias do Gonzaga, da Enseada, do Gonzaguinha, do Boqueirão, da Riviera de São Lourenço e do Cibratel.

Convenção da ONU

A discussão na Jamaica reúne representantes de 167 países signatários da Convenção da ONU sobre o Direito do Mar. E duas agendas dominam os debates: permitir o início da mineração no fundo do mar e a eleição do próximo secretário-geral. E uma brasileira está na disputa pelo comando do órgão, responsável por conceder as licenças de exploração.

Mas, o consenso está longe de ser alcançado entre as nações. E, se elas não chegarem a um acordo sobre as linhas gerais de um Código da Mineração no Mar, o caminho ficará livre para que os interessados possam explorar os minerais em águas internacionais.

Isso porque existe uma regra na Convenção da ONU que, se acionada, libera as nações-membro a apresentar planos para mineração em larga escala, mesmo que o código não tenha sido adotado formalmente.

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Em julho de 2021, Nauru, uma ilha da Oceania, em parceria com a mineradora canadense The Metals Company, acionou essa regra, pressionando o Conselho da ISA a finalizar o código de mineração até julho de 2023. Mas, isso não ocorreu.

‘Mineração sem freio’

Até o início dos debates nesta semana, 27 dos 36 países que compõem o Conselho da ISA se manifestaram a favor de uma moratória. Essa suspensão de qualquer licenciamento seria adotada até que os impactos ambientais sejam melhor avaliados e que as nações desenhem, em conjunto com a Ciência, um código de mineração seguro.

Segundo Louisa Casson, ativista da campanha Stop Deep Sea Mining do Greenpeace, o momento é “politicamente estressante”, devido à iminente divisão entre as nações. E essa discórdia pode desaguar no limbo que permitirá a mineração sem freio. “Se não tivermos um caminho claro após essa reunião, a porta estará aberta para a Metals Company”, advertiu Louisa em entrevista à agência de notícias epbr.com.

Sem regras, vale tudo no litoral da América

Na ausência de regras, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) se viu obrigada a autorizar 31 contratos de exploração mineral em alto mar. As áreas liberadas compreendem um total de 1,5 milhão de quilômetros quadrados. O loteamento do fundo do mar abrange um espaço equivalente a quatro vezes o tamanho do território da Alemanha, ou 1% de todo o assoalho marinho em águas internacionais.

A maior parte desses contratos mira uma área no Oceano Pacífico potencialmente rica em minerais essenciais para a economia carbono-zero. Próximo desses canteiros de obras estão praias badaladas como Acapulco, no México, além do litoral de estados norte-americanos, como a Califórnia, e até o paraíso dos surfistas, no Havaí.

Esses 31 contratos não permitem extrair minérios em larga escala, mas autorizam a exploração para testes que vão subsidiar a etapa seguinte dos projetos, que é a solicitação formal para mineração de cobre, níquel, manganês e cobalto. É o que a The Metals Company planeja fazer ainda este ano.

“A ciência mostra que se fizer a mineração no mar, haverá danos. Isso é inevitável”, resume a ativista Louisa Casson, da campanha Stop Deep Sea Mining do Greenpeace.

Moratória

Brasil, Chile, Canadá, México, Costa Rica, Finlândia, Alemanha, Portugal, Suíça e Nova Zelândia estão entre os 27 países que defendem uma moratória para mineração no fundo do mar até que seja pactuada uma legislação específica para a atividade em águas internacionais. A França se declarou a favor de banir definitivamente as operações em mar aberto.

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Segundo a epbr.com, um grupo com mais de 800 cientistas e empresas também defende a moratória preventiva. Esse grupo conta com o apoio de Google, BMW, Volvo e Renault, por exemplo. Povos indígenas do Pacífico, cuja subsistência depende do oceano, também resistem à ideia.

Na outra ponta estão China, Noruega, Nauru e Reino Unido, que pedem agilidade no licenciamento. Nos Estados Unidos, essa é uma agenda que divide Republicanos e Democratas, às vésperas da eleição presidencial.

Brasil é protagonista contra ‘caça ao tesouro’

Os críticos à mineração no fundo do mar contestam a liderança do britânico Michael Lodge, atual secretário-geral da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA). Na avaliação desses setores, Lodge pautou seus dois mandatos pela defesa dos interesses das grandes mineradoras internacionais. Para obter uma licença para estudos no assoalho marinho cada empresa paga US$ 500 mil em taxas para a ISA. Ao longo da gestão Lodge, nenhum pedido de mineração exploratória preliminar foi rejeitado.

Para romper com essa suposta afinidade, o Brasil lançou a candidatura da diplomata e cientista do mar Letícia Carvalho. A candidatura brasileira para a Secretaria-Geral da Autoridade Internacional já recebeu o apoio de nações como a Alemanha. Letícia pode ser a única adversária de Lodge.

A eleição para o cargo ocorre no próximo dia 2, na Jamaica. O papel de secretário-geral é administrativo e deve buscar a neutralidade, mas tem a tarefa de pautar a agenda de debates e definir quais vozes são priorizadas. A relação de candidatos será definida no último dia da reunião do Conselho da Autoridade Internacional, no próximo dia 26.

“Os governos pró-moratória –, que estão crescendo em número, apoiados por empresas, populações indígenas, cientistas e ambientalistas –, vão construir mais poder para criar uma barreira legal ao começo da mineração no mar? Ou as coisas ficarão abertas e estaremos sob ameaça da mineração no mar, o que seria desastroso para os oceanos?”, questionou Louisa Casson, ativista da campanha Stop Deep Sea Mining do Greenpeace, em entrevista à agência de notícias epbr.com.

 

 

 

 

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Especialistas debatem proibição do mercúrio na extração de ouro

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Foto: Ton Molina

Vários setores econômicos já abandonaram o uso do mercúrio devido a seu impacto na saúde das pessoas e no meio ambiente. Mas o metal continua a ser largamente utilizado na extração de ouro, especialmente na Amazônia. Apenas entre 2018 e 2022, 185 toneladas de mercúrio de origem desconhecida podem ter sido utilizadas nos garimpos do país.

Em debate realizado nesta terça-feira (7) pelo jornal Correio Braziliense em parceria com o Instituto Escolhas, representantes do poder público, empresários e pesquisadores concordaram sobre a necessidade de pôr fim ao uso de mercúrio nos garimpos, mas divergiram sobre o que precisa ser feito até sua erradicação e sobre a conveniência de uma proibição imediata.

Ao abrir o evento, Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, destacou a importância de a discussão da erradicação do mercúrio e de alternativas viáveis economicamente a esse insumo da mineração acontecer às vésperas da COP30, que será realizada em novembro na cidade  de Belém (PA).

Primeiro convidado a falar, Eloy Terena, secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), afirmou que o garimpo ilegal está presente em 26 Terras Indígenas, de forma mais intensa e preocupante em quatro delas: Kayapó, Munduruku, Yanomami e Sararé. “O garimpo é vetor de violência, desmatamento, contaminação das águas e desestruturação social.”

Jair Schmitt, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, responsável pelas ações de fiscalização do órgão, listou as iniciativas tomadas pelo instituto no atual governo e usou uma imagem forte para falar da “explosão do garimpo ilegal na Amazônia” de 2017 a 2023. “Quando a gente olha as imagens dos satélites, o que a gente está vendo ali é a proliferação de um grande câncer”, afirmou.

 

Controles sobre o uso do mercúrio

Depois das falas inaugurais de Terena e Schmitt, teve início a primeira mesa do debate, que discutiu “Controles sobre o uso do mercúrio: desafios e perspectivas”. Renato Madsen Arruda, diretor substituto da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, afirmou que a PF tem como objetivo principal, ao lado de outros órgãos da administração pública, atacar o crime organizado que cerca a atividade da mineração ilegal.

“Não é aquele garimpeiro, aquele trabalhador braçal que está ali nos rincões da Amazônia que está acumulando essa riqueza. Há outros atores que estão acumulando essa riqueza e financiando a atividade. A estratégia da Polícia Federal tem sido principalmente descapitalizar esses atores que circundam a atividade da mineração ilegal e que enriquecem em prejuízo do meio ambiente e das comunidades que vivem na região amazônica”, disse Arruda.

O deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), autor de um projeto de lei que proíbe o uso do mercúrio em atividades de mineração, lembrou que durante os governos Michel Temer (2016 a 2018) e Jair Bolsonaro (2019 a 2022) a “atividade minerária ilegal explodiu de forma extraordinária”. E lamentou a força política de parlamentares que buscam flexibilizar a legislação do setor. “Há um lobby muito forte da mineração dentro do Congresso que, por vezes, trabalha de forma conjunta com o lobby da mineração ilegal”, disse.

Diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues destacou que o uso do mercúrio na mineração já é altamente regulado, citando a necessidade de licenciamento ambiental e de autorização, pelo Ibama, de sua importação – o Brasil não produz mercúrio. “O que a gente podia fazer em termos de regulação para tentar diminuir a periculosidade do uso dessa substância já foi feito.”

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Apesar disso, os resultados positivos não apareceram e é hora de “mudar a chave”. “Esse esforço que a gente precisa fazer para usar o mercúrio numa condição um pouco mais segura é tão grande que eu acho que a gente poderia pegar esse mesmo esforço e colocar nas alternativas”, disse. E a melhor alternativa é a “erradicação”, declarou.

“Acho que, de fato, a gente precisa caminhar em direção à proibição total do mercúrio na extração de ouro, como a gente fez em outros segmentos.” A pesquisadora parabenizou Nilto Tatto, a seu lado na mesa, por apresentar o projeto que proíbe o uso do mercúrio.

O último a falar na primeira mesa, Giorgio de Tomi, professor titular da Escola Politécnica da USP e Coordenador Técnico do Projeto Ouro Sem Mercúrio, defendeu a importância do Estado na mudança da realidade do garimpeiro que atua de forma ilegal. “Existe a vontade dos garimpeiros de mudar e evoluir”, afirmou. “Mas eles precisam de ajuda.”

“Hoje eles trabalham em regiões remotas, sem apoio nenhum. A única presença do Estado, quando tem, é na hora de reprimir, fiscalizar”. Para De Tomi, os que usam mercúrio no garimpo ilegal “precisam de apoio técnico, econômico e de Estado para facilitar essa transição”.

Três convidados falaram entre as duas mesas do debate. Julevânia Olegário, diretora do Departamento de Desenvolvimento Sustentável na Mineração (DDSM) do Ministério de Minas e Energia (MME), defendeu a eliminação do mercúrio nos garimpos, mas disse ser importante que o Estado brasileiro ajude a capacitar as pessoas envolvidas na extração de ouro, já que a “atividade é feita, na maioria das vezes, por comunidades tradicionais e vulneráveis”. Afirmou que é preciso fomentar alternativas ao mercúrio que sejam “economicamente viáveis”.

Diretora do Departamento de Qualidade Ambiental do Ministério de Meio Ambiente, Thaianne Resende alertou para o impacto do mercúrio na saúde e no meio ambiente. “O mercúrio é silencioso, invisível, mas deixa marcas profundas na saúde, na água e na floresta”, afirmou.

Miguel Castro, ponto focal regional para Latam e Caribe do Centro CER da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), destacou a preocupação da organização em estabelecer padrões elevados de políticas públicas entre os 38 países-membros e países parceiros, como o Brasil.

Para a OCDE, a estabilidade das cadeias de fornecimento deve caminhar junto com a sustentabilidade. “Essa visão reforça a necessidade de uma mineração responsável, não apenas como uma exigência, mas também como uma oportunidade de desenvolvimento inclusivo e a longo prazo.”

 

Alternativas ao uso do mercúrio

Abrindo a segunda mesa, que debateu “Alternativas ao uso do mercúrio: para onde vamos?”, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas, criticou a obrigação legal de que todo o ouro que sai dos garimpos precisa ser vendido para Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, as DTVMs. Cinco delas dominam hoje o mercado brasileiro de ouro.

“Nos últimos anos essas instituições financeiras que tinham ou que tem autorização do Banco Central comercializaram e financiaram o ouro ilegal que circulou pelo Brasil e ganhou o exterior”, afirmou. “Quando a gente fala de lavagem de ouro, essas instituições sempre foram um ponto de lavanderia.”

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A diretora do Escolhas defendeu a abertura de mercado, no qual uma indústria possa comprar diretamente de quem produz o ouro de forma responsável. “A gente não vai conseguir incentivar [as boas práticas] se a gente não tirar do meio do caminho as forças que até hoje só incentivaram o mercado ilegal.”

Larissa destacou ainda o fato de existirem hoje alternativas rentáveis ao mercúrio. “Muitas pessoas me perguntam: qual a alternativa ao mercúrio? Às vezes, a resposta não é tão complicada assim. Há algumas questões de tecnologia que às vezes são mais difíceis. Mas existem garimpos produzindo ouro sem mercúrio. Utiliza o quê no lugar? Nada. Utiliza água. A força mecânica da gravidade.”

Gilson Camboim, presidente na Federação das Cooperativas de Mineração do Estado de Mato Grosso, listou uma série de avanços tecnológicos que estão sendo desenvolvidos em centros de pesquisa e podem substituir o mercúrio – como o uso de nanopartículas de magnetita e o extrato das folhas do pau-de-balsa – e alguns que já estão sendo usados pelos garimpeiros – como o processo que une bombeamento de água e filtragem por meio de calhas.

Camboim destacou o papel do cooperativismo na busca de soluções que substituam o mercúrio. “O cooperativismo foi reconhecido pela ONU neste ano de 2025 como um mecanismo para o aprimoramento das atividades econômicas. Vamos lutar para conseguir chegar a este ponto, de eliminar o uso do mercúrio.”

Para Eduardo Gama, diretor de operação da startup Certimine, há muitos desafios para a substituição do mercúrio, um deles o fato de ser eficiente. “O mercúrio é muito tolerante e muito democrático. Aceita folha, areia. O que você alimentar, ele vai tirar ouro. O mesmo não pode ser dito sobre os outros métodos. Eu gosto de falar que o mercúrio é a força bruta, enquanto o resto é ajuste fino”.

Gama destacou a dificuldade de os pequenos mineradores irem para métodos mais sofisticados, pois não conseguem financiamento. “Eles ficam presos numa ratoeira, pois não conseguem migrar para outro regime. E precisam daquela atividade para sobreviver.”

Elena Crespo, professora titular da Universidade Federal do Pará e coordenadora do Instituto Amazônico do Mercúrio, lembrou que a Amazônia é responsável por 80% das emissões de mercúrio na América do Sul e a segunda região do mundo que mais emite a substância.  E destacou que o ouro não fica na Amazônia. “Mas somos os primeiros a receber todas as consequências, as mais graves.” Entre elas, danos ao desenvolvimento das crianças, que passam a ter problemas de aprendizagem. “Falamos aqui de comprometimento das gerações futuras.”

Crespo disse acreditar que os garimpeiros da Amazônia querem mudar esse panorama. “Ninguém quer se expor ou expor sua família simplesmente por ganância”, afirmou a pesquisadora. “Dando oportunidade para eles, vão tornar esse quadro muito mais sustentável.”

Assista à integra do debate no canal do Correio Braziliense no YouTube.

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