CUIABÁ
Search
Close this search box.

Notícias

Mãe de Ouro, a lenda dos garimpeiros

Publicado em

“A Mãe de Ouro é um personagem do folclore brasileiro muito popular em regiões onde a mineração do ouro ocorreu, sobretudo São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Mato Grosso. A origem da lenda pode estar relacionada ao chamado fogo-fátuo, fenômeno que ocorre na natureza e que emite luz. A Mãe de Ouro é descrita de formas diferentes pelo território brasileiro, mas as formas mais comuns são como uma bela mulher, uma bola de fogo ou uma estrela cadente. Desde o século XIX diversos folcloristas escreveram sobre a lenda da Mãe de Ouro.”

“Resumo sobre a Mãe de Ouro

A lenda da Mãe de Ouro faz parte do folclore brasileiro, que ainda hoje é contada, sobretudo nas áreas rurais do país.
Por se tratar de uma lenda, existem diversas versões sobre a Mãe de Ouro. Sua aparência também varia bastante.
A Mãe de Ouro é associada diretamente a dois fenômenos naturais, a entrada de meteoros na atmosfera e o chamado fogo-fátuo.
Alguns autores defendem que a origem da Mãe de Ouro é europeia, outros defendem que ela tem origem em mitos indígenas.”

“Como é representada a Mãe de Ouro?

A Mãe de Ouro é uma lenda do folclore brasileiro popular em diversas regiões do Brasil, sobretudo nas regiões com passado ligado à mineração do ouro. Por se tratar de uma lenda, com mais de dois séculos de existência, diversas versões existem sobre a aparência da Mãe de Ouro, mas geralmente ela é representada como uma bela mulher, vestida de branco e com cabelos dourados. Ela também pode se manifestar como uma bola de fogo, que aparece por breve tempo ou ainda como uma estrela cadente.

Em pesquisa realizada em São Paulo, Augusto Meyer apontou que a Mãe de Ouro é descrita de formas diferentes no estado, podendo ser representada como um passarinho, lagarto, como uma bela mulher ou um facho de luz. Em Brotas, os depoimentos coletados na pesquisa apontam a Mãe de Ouro como um lagarto dourado. No vale do Rio São Francisco, em Minas Gerais, a Mãe de Ouro pode aparecer como uma estrela cadente ou como uma serpente encantada, semelhante ao boitatá.”

Leia Também:  Mineração cresceu 6% no primeiro semestre do ano

“A maioria dos pesquisadores apontam a influência da cultura indígena na lenda da Mãe de Ouro. Na teogonia de diversos povos indígenas é comum a presença de uma espécie de mãe criadora, como em Mãe d’Água, Pacha Mama, Mama Killa, Mãe Terra, entre outras. Augusto Meyer defende que a lenda da Mãe de Ouro tem origem andina e, através do caminho do Peabirú, chegou até o centro do Brasil.”

“Qual a função da Mãe de Ouro?

Nas versões das áreas de mineração, a Mãe de Ouro mostra para os garimpeiros os locais onde os veios de ouro se localizam, além de proteger esses homens no trabalho de mineração. Ela indicava o local do ouro com uma bola de fogo próximo do local ou simplesmente levando os mineradores até o veio.

Em versões indígenas a Mãe de Ouro faz justamente o contrário, ela engana os garimpeiros, levando-os para locais distantes do ouro, evitando que eles encontrem as jazidas. Ela seria uma espécie de Curupira, que protege o ouro no subterrâneo e a floresta e as águas acima dele.”

“Em alguns lugares do Brasil a lenda conta que ela também protege as mulheres que são agredidas por seus maridos, atraindo o agressor para uma caverna, seduzindo-o com o ouro, e depois provocando o desabamento desta, sepultando o marido agressor nas profundezas da Terra.”

“Versões da lenda da Mãe de Ouro

A versão mais contada narra que um escravo, que era sempre castigado por seu dono, procurava desesperadamente ouro na floresta, para evitar ser novamente punido. Ao se aproximar de uma montanha ele avistou a Mãe de Ouro, que lhe indicou um local na encosta onde ele deveria cavar para encontrar ouro. Ela impôs uma condição ao homem, ele não deveria contar para ninguém sobre o lugar.

Ao cavar, ele encontrou grande quantidade de ouro e o levou para o seu dono, que ficou surpreso e exigiu que o escravo contasse onde minerou. O escravo se recusou a contar e foi muitas vezes chicoteado pelo senhor, não resistindo e contando para ele a localização da mina de ouro. O patrão correu para o local e começou a extrair o ouro. Dias depois ele havia aberto uma mina no local. Como punição ao dono do escravo, a Mãe de Ouro provocou o desmoronamento do teto da mina e a sua morte.

Leia Também:  Empresa do setor mineral contribui com sugestões à ANM no combate à lavagem de pedras e metais preciosos

Em outra versão, popular em comunidades caiçaras paulistas, um pescador fisgou um cesto cheio de ouro na foz de um rio após a Mãe de Ouro aparecer no lugar como uma estrela cadente. Ele levou o ouro para sua casa e fez uma promessa de que ele e todas as suas futuras gerações adotariam uma criança como forma de agradecimento à Mãe de Ouro.”

“Qual a origem da lenda da Mãe de Ouro?

A origem da lenda da Mãe de Ouro é incerta, mas provavelmente ocorreu no século XVIII nas regiões mineradoras do Brasil. A lenda está intimamente ligada ao período e a esses locais. Ela se relaciona diretamente à escravidão, à sua violência e à mineração do ouro no Período Colonial.

Diversos folcloristas escreveram sobre a Mãe de Ouro, entre eles Alberto Coelho da Cunha, Nitheroy Ribeiro, Veiga Miranda, Alceu Maynard Araújo, Ruth Guimarães, Luis da Câmara Cascudo, Theobaldo Miranda Santos, Lucília Garcez e Souza Carneiro. Os primeiros escritos são da segunda metade do século XIX.

A lenda da Mãe de Ouro pode estar relacionada ao chamado fogo-fátuo. Ele é um fenômeno natural que ocorre em lugares com material orgânico em decomposição, principalmente em pântanos e lagos, mas pode ocorrer em qualquer lugar.”

“A decomposição cria e libera elementos químicos que, em contato com o oxigênio da atmosfera, provocam a emissão de fótons. O fenômeno dura alguns segundos e pode ocorrer na forma de uma coluna. A lenda de origem indígena do Boitatá também se relaciona ao fogo-fátuo.”

COMENTE ABAIXO:
Advertisement

Notícias

Especialistas debatem proibição do mercúrio na extração de ouro

Published

on

Foto: Ton Molina

Vários setores econômicos já abandonaram o uso do mercúrio devido a seu impacto na saúde das pessoas e no meio ambiente. Mas o metal continua a ser largamente utilizado na extração de ouro, especialmente na Amazônia. Apenas entre 2018 e 2022, 185 toneladas de mercúrio de origem desconhecida podem ter sido utilizadas nos garimpos do país.

Em debate realizado nesta terça-feira (7) pelo jornal Correio Braziliense em parceria com o Instituto Escolhas, representantes do poder público, empresários e pesquisadores concordaram sobre a necessidade de pôr fim ao uso de mercúrio nos garimpos, mas divergiram sobre o que precisa ser feito até sua erradicação e sobre a conveniência de uma proibição imediata.

Ao abrir o evento, Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, destacou a importância de a discussão da erradicação do mercúrio e de alternativas viáveis economicamente a esse insumo da mineração acontecer às vésperas da COP30, que será realizada em novembro na cidade  de Belém (PA).

Primeiro convidado a falar, Eloy Terena, secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), afirmou que o garimpo ilegal está presente em 26 Terras Indígenas, de forma mais intensa e preocupante em quatro delas: Kayapó, Munduruku, Yanomami e Sararé. “O garimpo é vetor de violência, desmatamento, contaminação das águas e desestruturação social.”

Jair Schmitt, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, responsável pelas ações de fiscalização do órgão, listou as iniciativas tomadas pelo instituto no atual governo e usou uma imagem forte para falar da “explosão do garimpo ilegal na Amazônia” de 2017 a 2023. “Quando a gente olha as imagens dos satélites, o que a gente está vendo ali é a proliferação de um grande câncer”, afirmou.

 

Controles sobre o uso do mercúrio

Depois das falas inaugurais de Terena e Schmitt, teve início a primeira mesa do debate, que discutiu “Controles sobre o uso do mercúrio: desafios e perspectivas”. Renato Madsen Arruda, diretor substituto da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, afirmou que a PF tem como objetivo principal, ao lado de outros órgãos da administração pública, atacar o crime organizado que cerca a atividade da mineração ilegal.

“Não é aquele garimpeiro, aquele trabalhador braçal que está ali nos rincões da Amazônia que está acumulando essa riqueza. Há outros atores que estão acumulando essa riqueza e financiando a atividade. A estratégia da Polícia Federal tem sido principalmente descapitalizar esses atores que circundam a atividade da mineração ilegal e que enriquecem em prejuízo do meio ambiente e das comunidades que vivem na região amazônica”, disse Arruda.

O deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), autor de um projeto de lei que proíbe o uso do mercúrio em atividades de mineração, lembrou que durante os governos Michel Temer (2016 a 2018) e Jair Bolsonaro (2019 a 2022) a “atividade minerária ilegal explodiu de forma extraordinária”. E lamentou a força política de parlamentares que buscam flexibilizar a legislação do setor. “Há um lobby muito forte da mineração dentro do Congresso que, por vezes, trabalha de forma conjunta com o lobby da mineração ilegal”, disse.

Diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues destacou que o uso do mercúrio na mineração já é altamente regulado, citando a necessidade de licenciamento ambiental e de autorização, pelo Ibama, de sua importação – o Brasil não produz mercúrio. “O que a gente podia fazer em termos de regulação para tentar diminuir a periculosidade do uso dessa substância já foi feito.”

Leia Também:  Assembleia aprova taxa da mineração; texto será modificado

Apesar disso, os resultados positivos não apareceram e é hora de “mudar a chave”. “Esse esforço que a gente precisa fazer para usar o mercúrio numa condição um pouco mais segura é tão grande que eu acho que a gente poderia pegar esse mesmo esforço e colocar nas alternativas”, disse. E a melhor alternativa é a “erradicação”, declarou.

“Acho que, de fato, a gente precisa caminhar em direção à proibição total do mercúrio na extração de ouro, como a gente fez em outros segmentos.” A pesquisadora parabenizou Nilto Tatto, a seu lado na mesa, por apresentar o projeto que proíbe o uso do mercúrio.

O último a falar na primeira mesa, Giorgio de Tomi, professor titular da Escola Politécnica da USP e Coordenador Técnico do Projeto Ouro Sem Mercúrio, defendeu a importância do Estado na mudança da realidade do garimpeiro que atua de forma ilegal. “Existe a vontade dos garimpeiros de mudar e evoluir”, afirmou. “Mas eles precisam de ajuda.”

“Hoje eles trabalham em regiões remotas, sem apoio nenhum. A única presença do Estado, quando tem, é na hora de reprimir, fiscalizar”. Para De Tomi, os que usam mercúrio no garimpo ilegal “precisam de apoio técnico, econômico e de Estado para facilitar essa transição”.

Três convidados falaram entre as duas mesas do debate. Julevânia Olegário, diretora do Departamento de Desenvolvimento Sustentável na Mineração (DDSM) do Ministério de Minas e Energia (MME), defendeu a eliminação do mercúrio nos garimpos, mas disse ser importante que o Estado brasileiro ajude a capacitar as pessoas envolvidas na extração de ouro, já que a “atividade é feita, na maioria das vezes, por comunidades tradicionais e vulneráveis”. Afirmou que é preciso fomentar alternativas ao mercúrio que sejam “economicamente viáveis”.

Diretora do Departamento de Qualidade Ambiental do Ministério de Meio Ambiente, Thaianne Resende alertou para o impacto do mercúrio na saúde e no meio ambiente. “O mercúrio é silencioso, invisível, mas deixa marcas profundas na saúde, na água e na floresta”, afirmou.

Miguel Castro, ponto focal regional para Latam e Caribe do Centro CER da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), destacou a preocupação da organização em estabelecer padrões elevados de políticas públicas entre os 38 países-membros e países parceiros, como o Brasil.

Para a OCDE, a estabilidade das cadeias de fornecimento deve caminhar junto com a sustentabilidade. “Essa visão reforça a necessidade de uma mineração responsável, não apenas como uma exigência, mas também como uma oportunidade de desenvolvimento inclusivo e a longo prazo.”

 

Alternativas ao uso do mercúrio

Abrindo a segunda mesa, que debateu “Alternativas ao uso do mercúrio: para onde vamos?”, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas, criticou a obrigação legal de que todo o ouro que sai dos garimpos precisa ser vendido para Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, as DTVMs. Cinco delas dominam hoje o mercado brasileiro de ouro.

“Nos últimos anos essas instituições financeiras que tinham ou que tem autorização do Banco Central comercializaram e financiaram o ouro ilegal que circulou pelo Brasil e ganhou o exterior”, afirmou. “Quando a gente fala de lavagem de ouro, essas instituições sempre foram um ponto de lavanderia.”

Leia Também:  Sustentabilidade vira palavra-chave de joalherias que optam pelo ouro reciclado

A diretora do Escolhas defendeu a abertura de mercado, no qual uma indústria possa comprar diretamente de quem produz o ouro de forma responsável. “A gente não vai conseguir incentivar [as boas práticas] se a gente não tirar do meio do caminho as forças que até hoje só incentivaram o mercado ilegal.”

Larissa destacou ainda o fato de existirem hoje alternativas rentáveis ao mercúrio. “Muitas pessoas me perguntam: qual a alternativa ao mercúrio? Às vezes, a resposta não é tão complicada assim. Há algumas questões de tecnologia que às vezes são mais difíceis. Mas existem garimpos produzindo ouro sem mercúrio. Utiliza o quê no lugar? Nada. Utiliza água. A força mecânica da gravidade.”

Gilson Camboim, presidente na Federação das Cooperativas de Mineração do Estado de Mato Grosso, listou uma série de avanços tecnológicos que estão sendo desenvolvidos em centros de pesquisa e podem substituir o mercúrio – como o uso de nanopartículas de magnetita e o extrato das folhas do pau-de-balsa – e alguns que já estão sendo usados pelos garimpeiros – como o processo que une bombeamento de água e filtragem por meio de calhas.

Camboim destacou o papel do cooperativismo na busca de soluções que substituam o mercúrio. “O cooperativismo foi reconhecido pela ONU neste ano de 2025 como um mecanismo para o aprimoramento das atividades econômicas. Vamos lutar para conseguir chegar a este ponto, de eliminar o uso do mercúrio.”

Para Eduardo Gama, diretor de operação da startup Certimine, há muitos desafios para a substituição do mercúrio, um deles o fato de ser eficiente. “O mercúrio é muito tolerante e muito democrático. Aceita folha, areia. O que você alimentar, ele vai tirar ouro. O mesmo não pode ser dito sobre os outros métodos. Eu gosto de falar que o mercúrio é a força bruta, enquanto o resto é ajuste fino”.

Gama destacou a dificuldade de os pequenos mineradores irem para métodos mais sofisticados, pois não conseguem financiamento. “Eles ficam presos numa ratoeira, pois não conseguem migrar para outro regime. E precisam daquela atividade para sobreviver.”

Elena Crespo, professora titular da Universidade Federal do Pará e coordenadora do Instituto Amazônico do Mercúrio, lembrou que a Amazônia é responsável por 80% das emissões de mercúrio na América do Sul e a segunda região do mundo que mais emite a substância.  E destacou que o ouro não fica na Amazônia. “Mas somos os primeiros a receber todas as consequências, as mais graves.” Entre elas, danos ao desenvolvimento das crianças, que passam a ter problemas de aprendizagem. “Falamos aqui de comprometimento das gerações futuras.”

Crespo disse acreditar que os garimpeiros da Amazônia querem mudar esse panorama. “Ninguém quer se expor ou expor sua família simplesmente por ganância”, afirmou a pesquisadora. “Dando oportunidade para eles, vão tornar esse quadro muito mais sustentável.”

Assista à integra do debate no canal do Correio Braziliense no YouTube.

COMENTE ABAIXO:
Continue Reading

MAIS LIDAS DA SEMANA