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Uso consciente dos royalties da mineração

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*Ricardo Padilla de Borbon

 

Em um cenário de crescente conscientização sobre a sustentabilidade e a gestão responsável dos recursos naturais, a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) assume um papel crucial no desenvolvimento econômico dos municípios e estados brasileiros. A CFEM, que é uma contraprestação ou royalties paga pelas empresas que exploram minérios no país, representa uma fonte significativa de receita para as regiões produtoras, e seu uso eficiente pode ser um vetor de transformação social e econômica.

Em janeiro de 2024, a Agência Nacional da Mineração (ANM) distribuiu R$ 1,1 milhão em royalties a 51 municípios de Mato Grosso afetados pela atividade de mineração. De maio a dezembro de 2023 foram enviados às prefeituras R$ 7,6 milhões em CFEM, sendo R$ 2,7 milhões referente a extração do ouro.

Cerca de 80% da produção mineral em Mato Grosso é de ouro e calcário. No mês de janeiro, Diamantino, Rio Branco e Carlinda foram os municípios que mais receberam recursos do CFEM

Cerca de 80% da produção mineral em Mato Grosso é de ouro e calcário. No mês de janeiro, Diamantino, Rio Branco e Carlinda foram os municípios que mais receberam recursos do CFEM.

É essencial que os gestores públicos reconheçam a CFEM como uma oportunidade de investimento em áreas fundamentais para o bem-estar da população. Educação, saúde e infraestrutura são setores que, quando fortalecidos, podem impulsionar a qualidade de vida e atrair novos investimentos, gerando um ciclo virtuoso de crescimento.

Além disso, a diversificação econômica é um aspecto crítico a ser considerado. Dependendo excessivamente da mineração, as cidades podem enfrentar desafios quando confrontadas com a volatilidade dos preços dos minérios ou o esgotamento das reservas. Portanto, é prudente que uma parcela da CFEM seja destinada a fomentar outros setores econômicos, como o turismo, a agricultura e a tecnologia, garantindo uma base econômica mais estável e resiliente.

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A transparência na gestão desses recursos também é um ponto chave. Os cidadãos têm o direito de saber como os fundos são alocados e quais projetos estão sendo priorizados. A implementação de plataformas digitais para o acompanhamento das despesas e resultados pode fortalecer a confiança na administração pública e incentivar uma participação mais ativa da comunidade nas decisões que afetam seu futuro.

Além disso, a sustentabilidade ambiental não pode ser negligenciada. Investir parte da CFEM em projetos de recuperação de áreas degradadas pela mineração e em iniciativas de preservação ambiental é não apenas uma obrigação legal, mas também uma estratégia para assegurar a continuidade dos benefícios proporcionados pelos recursos naturais.

A CFEM é mais do que uma compensação. Ela é um instrumento de desenvolvimento e equidade social e cabe aos governos locais e estaduais a responsabilidade de gerir esses recursos com visão de futuro, garantindo que as riquezas do subsolo se transformem em riquezas sobre o solo, para o progresso de todos os cidadãos.

                       

 

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                                                                                        Ricardo Padilla de Borbon Neves é empresário*

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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