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Uma nova era na mineração?

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Por Paulo Castellari Porchia*

 

Os últimos meses foram bastante agitados na minha vida profissional – ouso dizer que os mais intensos da minha carreira. Isso me fez refletir ainda mais sobre o momento que a nossa indústria está passando, as mudanças que venho enxergando nos últimos anos e o nosso papel para potencializar essa transformação. E não poderia deixar de compartilhar todas essas reflexões e ensinamentos nesta Coluna.

Bom, venho pensando muito no que nós, mineradores, fazemos. Tudo que temos ao nosso redor vem de uma fazenda ou de uma mina. E até mesmo a fazenda precisa de produtos que vêm de uma mina no seu processo de produção e de criação de valor. Assim, tenho confiança em dizer que toda a fonte de criação de valor, de uma forma ou de outra, vem de uma mina e, por muito tempo, esse assunto nem muito discutido era.

Quando digo isso, não quero dizer que somos autossuficientes. Muito pelo contrário, nossa indústria depende de muitas outras para formar a nossa longa e complexa cadeia produtiva. O ponto aqui é que há tempos falamos que deveríamos promover o que fazemos na mineração, para que diversos públicos tenham maior entendimento da atividade e da capacidade que a indústria tem de gerar mudanças na vida das pessoas. Mas ainda temos muito a fazer nesse âmbito.

Deveríamos ser constantes porta-vozes da nossa área de atuação. Deveríamos também olhar para fora da indústria, nos inspirarmos em outros setores, trazermos novas práticas para dentro da nossa organização. Deveríamos aprender com casos de sucesso de outros negócios. Bem, a lista é longa…, mas o fato é que precisamos trabalhar como qualquer outro setor – dando uma real importância para a função de marketing.

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Entre 2004 e 2007 atuei como Diretor de Marketing que, muito embora carregasse esse nome, nada mais era que um trabalho de vendas. Foi um trabalho muito rico e que muito ajudou na formação da minha carreira, mas foi nesse período que comecei a me questionar se não poderíamos fazer mais pela nossa indústria. Olhava para o que os outros setores faziam, lembrava das minhas aulas de marketing na escola e cada dia tinha mais convicção de que havia, sim, muita possibilidade de fazer diferente.

Nesse período, trabalhei, junto a outros colegas, em um conceito estruturado de gerenciamento de marca – entendendo como a nossa marca influenciava nossos produtos, a relação com os nossos stakeholders e as nossas decisões de contratação, ligando a nossa marca aos nossos valores organizacionais. Como acontece em várias situações, esse meu projeto não ganhou destaque, pois falhei em conseguir convencer minha audiência da real relevância desse assunto.

Mas acredito que nada acontece por acaso. Quase 20 anos depois, finalmente consigo começar a enxergar a valorização dessa temática. Há algumas semanas, estive conversando com uma série de investidores com sede na Europa, nos Estados Unidos, Canadá, Oriente Médio e Ásia, como parte de um processo de promoção de investimento. E esse processo foi bastante diferente de tantos outros de que já participei. Desta vez, muitas perguntas foram feitas sobre o trabalho que fazemos além das nossas minas e plantas de processamento. Tivemos perguntas sobre “como” nosso produto é fabricado, o perfil dos nossos funcionários, o real impacto que temos nas comunidades, no meio ambiente — muito diferente de tudo que eu já havia visto no passado. Da mesma forma, pela primeira vez, tivemos encontros com investidores que não eram especializados em mineração: fundos de sustentabilidade, fundos generalistas, fabricantes de veículos e gerenciadores de fortunas familiares.

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E o que eu aprendi com esse processo? Que realmente fazer uma mineração mais inteligente e com processos de comunicação e marketing mais autênticos, faz a diferença. Estamos vivendo um momento único, em que a população está preocupada em saber de onde vêm as matérias-primas dos produtos que utilizam e como eles foram fabricados. Por isso, tenho convicção de que, em breve, os produtos com mais cuidado e esmero no processo de fabricação serão preferidos pelos consumidores. Nosso Níquel da Bahia, que é produzido com uma pegada de carbono até 15 vezes menor que outros produtores mundiais, nosso cobre, que é produzido com mais de 70% dos empregados vindo das comunidades locais, vão ser preferidos por investidores e consumidores. E eu acredito que isso não é uma moda. Há mais de 20 anos estamos trabalhando para que esse dia chegue e – felizmente – está chegando.

Acredito que #SomosTodosMineradores e por isso quero abrir a discussão para ouvir o que vocês pensam sobre o tema. Use a # no seu LinkedIn e compartilhe suas ideias e experiências sobre o que eu expus aqui. Vamos conversar mais sobre nosso mercado e nossa indústria!

 

* Paulo Castellari Porchia é executivo de mineração com mais de 10 anos de experiência como CEO em operações de mineração no Brasil e na África Ocidental. 

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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