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ARTIGO

Transição energética e mineração

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FREDERICO BEDRAN OLIVEIRA*

A nova ordem mundial é a mudança para uma economia verde, neutra em carbono, em que países e empresas têm adotado políticas e ações para a redução das emissões de CO2 no enfrentamento ao aquecimento global e na busca do cumprimento do Acordo de Paris.

A transição energética é uma resposta para esses compromissos, com uma previsão de crescimento mundial da geração de energia renovável, com destaque para usinas solares e parques eólicos, e fabricação de veículos elétricos e baterias.

Diversos estudos, do Banco Mundial e da Agência Internacional de Energia, apontam que para suprir a demanda dessas tecnologias será necessário um crescimento expressivo na oferta de insumos minerais. A mudança em curso tem um enorme potencial para mudar a escala e a composição da demanda global por minerais e metais, os quais possuem um papel fundamental na transição energética e são cruciais para a forma como a energia é gerada, transportada, armazenada e utilizada.

Os recursos minerais utilizados não são os mesmos, o que trará a necessidade de diversificação da cadeia mineral, com foco em lítio, níquel, cobre, manganês, nióbio, vanádio e grafite para baterias, além de elementos de terras raras para ímãs permanentes, que são vitais para turbinas eólicas e motores elétricos.

Assim, não é forçoso atestar que não haverá transição energética sem mineração e não é novidade que o Brasil dispõe de relevante potencial mineral e possui um papel fundamental no suprimento das cadeias nacional e internacional. Nos últimos anos, vários países publicaram estudos ou políticas sobre minerais críticos e necessários para a transição energética, com destaque para Austrália, Canadá e Estados Unidos.

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No Brasil, os últimos governos também têm estruturado ações com foco nesses minerais, por meio de priorização de projetos para fins de licenciamento ambiental, estudos temáticos e levantamentos geológicos e investimentos em P&D específicos.

No entanto, ainda há muito a ser feito e ao que parece vários especialistas já apontaram a melhor receita: ampliar o conhecimento geológico; criar instrumentos de financiamento; tornar mais ágeis processos de licenciamento mineral e ambiental e ampliar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Ainda não foram identificados os desafios de cada cadeia mineral, por meio de um mapeamento desde a mineração até a transformação mineral, que indique exatamente o ponto em que o estado deve ou não atuar. Por exemplo, é importante saber até onde conseguiremos chegar à jusante dessas cadeias e se produziremos baterias para carros elétricos no Brasil.

A agregação de valor é um dos maiores desafios para a economia brasileira, para que seja feita a reindustrialização da economia nacional, mas este objetivo não pode impedir a abertura de novos mercados, ou seja, novos projetos de mineração.

A abertura do mercado de lítio em 2022, que propiciou a atual participação brasileira no mercado internacional e a criação do vale do lítio é a primeira resposta dessa nova onda, e ainda temos o cobre, o níquel, o grafite e as terras raras.

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Os atuais planos do governo, que incluem o Plano de Transição Ecológica e os esforços do Ministério de Minas e Energia para ampliação da mineração desses elementos, se forem integrados com a política ambiental e de ciência e tecnologia, serão capazes de ampliar a participação brasileira na produção mundial desses minerais.

Se perdermos esse momento, continuaremos com regiões pobres, com baixos índices econômicos e sociais, sobre subsolos ricos em minérios.

Cabe ressaltar os avanços que o setor mineral está promovendo, com projetos sendo desenvolvidos para pesquisa e produção de níquel, cobre e terras raras, das empresas Centaurus Metals, Meteoric Resources, Erro Copper e Horizonte Minerals, entre outros. Importante destacar também as áreas potenciais que estão sendo pesquisadas e se mostrando positivas, como Bahia, Pará, Mato Grosso e Tocantins, além das inovações que permitirão o aproveitamento dos rejeitos.

Nesse contexto, o que sugerimos é uma agenda transparente que passa por uma lista dos projetos em desenvolvimento, das regiões e pesquisas promissoras que o estado deve apoiar e incentivar, bem como, das medidas regulatórias e dos mecanismos de financiamento que devem ser implementados.

Para alcançar esses objetivos precisamos de esforço público e privado e a transição energética é um movimento único que une todos os atores da mineração. Se o futuro é verde e sustentável, ele passa necessariamente pela mineração.

* FREDERICO BEDRAN OLIVEIRA, sócio do Caputo, Bastos e Serra Advogados

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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