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Diversidade e inclusão fazem a diferença na mineração

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 Paulo Castellari Porchia*

 

Quando aceitei o convite para escrever a Coluna do PCP, foi no intuito de compartilhar meus pensamentos sobre as principais tendências, oportunidades, riscos e, principalmente, aspectos em que ainda temos que evoluir como indústria. Afinal, só conseguimos promover as mudanças que queremos com muita troca, diálogo e transparência.

Sabemos que, por mais que tenhamos evoluído de maneira significativa em temas como diversidade, inclusão, equidade e pertencimento, a mineração ainda é um ambiente pouco diverso em todos os sentidos. Quando falo de pouca diversidade, me refiro a gênero, etnia, cultura, origem e também formação. Nossos ambientes de trabalho ainda são majoritariamente masculinos. E quando olhamos para posições de liderança, os números do nosso setor são ainda mais tímidos. Então, a pergunta que sempre volta a martelar em algumas reflexões é: como deixar nosso ambiente de trabalho mais confortável para todos? Como atrair pessoas de diferentes gerações e modos de pensar e tornar a convivência harmoniosa?

Falamos tanto de segurança nas nossas operações e acho que nem sempre entendemos que diversidade está diretamente ligado à saúde e segurança dos nossos empregados. Construir um ambiente de trabalho diverso e inclusivo é também promover bem-estar e garantir que as nossas pessoas se sintam seguras no lugar que elas passam a maior parte dos seus dias.

Para além da segurança do nosso ativo mais importante – nossas pessoas -, a implementação de políticas de promoção da diversidade também constrói equipes com competências e habilidades mais diversificadas. Sempre gosto de reforçar com meus times a importância da diversidade de formação e backgrounds. É claro que precisamos de engenheiros de minas nas nossas operações, mas precisamos também, cada vez mais, de jornalistas, comunicólogos, economistas, internacionalistas e outras profissões que não estamos tão acostumados a ver no setor mineral. É a diversidade de ideias, a divergência de modos de pensar e o debate que traz inovação, evolução e crescimento. Só com esse mix de perspectivas que vamos chegar no que eu chamo de “nova era da mineração”.

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Olhando para minhas experiências no setor, vivi de perto situações onde a diversidade cultural verdadeiramente trouxe valor para o negócio. Recordo-me de recrutar profissionais do setor aeronáutico para trabalhar na prática de manutenção, trazendo fundamentos e processos que naquela época não eram usados no setor. Recordo-me,  também, de trazer práticas de marketing e gerenciamento de clientes para nossos processos de relacionamento com as comunidades – essa experiência em especial trouxe muito valor e aprendizados, um dos contribuidores da construção do conceito de Integração Social que temos tão vivo nos ativos da Appian ao redor do mundo.

Acredito que temos de começar de algum lugar, e como vivemos num ambiente altamente ‘técnico’, talvez um caminho seja justamente esse – trabalhar com atividades que podem contribuir com a cadeia de valor da mineração, e daí alavancar para as áreas mais óbvias do nosso setor. Mas como qualquer mudança cultural, temos que aplicar disciplina e foco.

E com disciplina e foco perceberemos, cada vez mais, os ganhos dessa mudança. Diversidade e inclusão também melhoram o clima organizacional da empresa, o que, por óbvio, também melhora a performance da força de trabalho e diminui a rotatividade – um dos maiores desafios do nosso setor. Portanto, de fato, as organizações só serão capazes de reter talentos, crescer, ganhar relevância e atrair investidores, com um olhar mais inclusivo e diverso.

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Mas voltando para as minhas reflexões: como fazer isso? A resposta está no trabalho da liderança. O líder deve ser o exemplo a ser seguido e deve observar os comportamentos e ações dos seus liderados para garantir o respeito e a tolerância. Também cabe ao líder educar, quebrar barreiras e viéses inconscientes, olhar de perto para os números de D&I e dar oportunidades para todos. É papel da liderança dar esse “empurrão” na direção de ambientes mais inclusivos e diversos.

Sei que ainda estou longe de chegar lá, mas trabalho todos os dias para que o compromisso com a pluralidade esteja sempre no centro da minha tomada de decisões. E você, o que tem feito para impulsionar a estratégia de Diversidade & Inclusão na empresa em que trabalha? 

* Paulo Castellari Porchia é um executivo de mineração com mais de 10 anos de experiência como CEO em operações de mineração no Brasil e na África Ocidental. 

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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