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Como equacionar os efeitos da flutuação do ouro e o consumo de joias

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Nos últimos anos, as cotações do ouro têm oscilado fortemente e quebrado recordes de alta. Em 12 meses, o metal se apreciou em mais de 20%, sendo que entre a cotação mais baixa (outubro de 2023 – US$ 1.830 a OZ) e a cotação mais alta (abril de 2024 – US$ 2.400 a OZ), observamos uma variação de mais de 30%.

Esse comportamento instável do metal impacta toda a cadeia de valor da indústria joalheira, exigindo redobrada atenção do empresariado para o gerenciamento de estoques, o manejo da política de preços e a estratégia de relacionamento com os clientes e fornecedores.

Diante disto, seguem 10 dicas para manter o “manche” sob controle e superar o momento de turbulência.

  1. Mantenha a calma: algumas coisas na vida estão fora do nosso controle e, uma delas é a cotação internacional do ouro. Segundo os filósofos Estoicos, devemos nos concentrar apenas naquilo que está sob nosso controle. Portanto, manter a calma e focar nos instrumentos que estão ao nosso alcance para superar momentos desafiadores é a atitude mais sábia.
  2. Ajuste nos valores dos estoques: o gerenciamento de estoque e o manejo na política de preços é de fundamental importância frente à alta do ouro. Segundo os especialistas, caso sua margem de lucro não esteja muito comprimida, uma variação de 10% na cotação do metal já justifica um ajuste no valor do seu estoque. Caso você esteja operando com uma margem muito estreita, essa recomendação cai para 5%. Portanto, caso você ainda não tenha reajustado seus preços nos últimos meses, já passou da hora de fazê-lo. Importante lembrar que a variação de preços se deu apenas na cotação do ouro e não nos demais custos de operação.
  3. Transparência no relacionamento com o cliente: lembre-se que os artigos de joalheria, além de adornos, são percebidos pelos clientes como itens de reserva de valor. Procure esclarecer seu cliente que o ouro é um ‘ativo de reserva’, um bem valioso e que, portanto, tem suas particularidades e seu perfil de investimento. Com ética e responsabilidade, explore essa característica dos artigos de joalheria, e não deixe de fechar negócios
  4. Ajustes na cadeia de suprimento: é normal que a alta do ouro altere a estratégia de negócios ao longo da cadeia de suprimentos. A demanda por peças mais leves, com mais pedras, diversificação na composição do mix de produtos e ajuste nas condições de pagamento e precificação com fornecedores é comum acontecer. Seu fornecedor está no “mesmo barco” que você, ou seja, a indústria também está sendo impactada pela alta do metal. Veja seu fornecedor como um parceiro e busque formas inovadoras para manter o ritmo dos negócios.
  5. Percepção de valor: como já foi dito, várias pesquisas indicam que os clientes percebem a joalheria como uma reserva de valor, quase como um investimento. Geralmente, um aumento substancial nas cotações do ouro não representa uma queda de consumo na mesma proporção. Procure ‘explorar’ essa percepção e compartilhar com seu cliente o momento de valorização das cotações como uma das características intrínsecas do metal precioso.
  6. A inflação de serviços: é importante ponderar que, nos últimos 12 meses, a inflação de serviços e dos itens monitorados pelo governo girou em torno de 9%. Quando olhamos para o médio prazo, verificamos que, nos últimos dez anos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) – o índice oficial de inflação – atingiu 77%. No mesmo período, a cotação do ouro teve uma variação positiva de 72% (março de 2014: US$ 1.400 a OZ / abril de 2024; US$ 2.400 a OZ), ou seja, abaixo da inflação acumulada. O que assusta no curto prazo, não impressiona tanto se olharmos em perspectiva.
  7. A flutuação intensa: a flutuação intensa do metal prejudica mais os negócios que a alta das cotações ao longo do tempo. Apesar de cada empresa ter sua estratégia, neste momento, o modelo de negociação mais recomendado entre a indústria e o varejo é “travar o preço” e antecipar o pagamento no ato da contração da coleção, evitando assim, que a cadeia de suprimento seja desorganizada. Lembre-se que a relação entre indústria e varejo deve ser de parceria, tendo os requisitos de inovação, exclusividade de coleção ou produto, condições de preço e pagamento desenvolvidos em prol de todos.
  8. Desmaterialização do produto: o produto é muito importante, mas o entorno dele também é. Não deixe de investir na experiência, no marketing de relacionamento, no visual de sua loja, no posicionamento de sua empresa, na qualidade do atendimento, nas embalagens que acompanham a joia, etc. Talvez você não perceba, mas esses requisitos podem fazer a diferença na hora de consolidar uma venda.
  9. Procedência do ouro: o perfil dos consumidores está se alterando assim como tudo no mundo. O consumidor mais jovem está mais atento em temas como responsabilidade social e ambiental. Cobre de seus fornecedores maior atenção a esses quesitos.
  10. Busque ajuda: vivemos na era do conhecimento e conhecimento é compartilhamento de informação. Busque ajuda especializada (consultoria, assessoria, etc.) e invista em uma maior qualificação empresarial, incluindo seus colaboradores.
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*Ecio Morais é economista e diretor executivo do IBGM e da AJESP.

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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