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O que aconteceu com o ouro brasileiro levado por Portugal?

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Se você já se deparou com qualquer publicação um tanto mais polêmica nas redes sociais de um usuário vindo de Portugal, provavelmente já encontrou um brasileiro na sessão de comentários demandando que os portugueses “devolvam o nosso ouro”, certo? Afinal, esse é um debate histórico que tem se tornado cada vez mais acalorado nos últimos tempos.

Antes mesmo do início do chamado Ciclo do Ouro, no início do século XVIII, registros históricos já mostravam que existia uma forte exploração do metal em território brasileiro — o que se agravou com os anos. E durante vários anos de colonização, os portugueses teriam coletado uma grande quantidade de ouro no Brasil. Porém, onde é que todo esse metal precioso foi parar?

No fim do século XVII, a região de Minas Gerais passou a atrair grande interesse dos portugueses. Naquela época, os colonizadores decidiram que o ouro seria o principal produto extraído no Brasil, uma vez que a cana-de-açúcar sofria um grande declínio diante da concorrência caribenha. Assim, durante o Ciclo do Ouro, uma grande quantidade do metal foi extraída.

Pesquisadores não sabem o número exato, tendo em mente que muitos registros importantes se perderam e muitos mineiros e comerciantes contrabandeavam o produto dentro e fora do território nacional — fugindo da tributação do quinto, o imposto real que cobrava 20% da produção de ouro.

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Mesmo assim, estima-se que a produção brasileira de ouro no século XVIII tenha sido algo entre 876 mil e 948 mil kg do metal, mesmo com técnicas bastante rudimentares sendo utilizadas no processo. Para métodos de comparação, dados da World Gold Council mostram que o Brasil produziu cerca de 87 mil kg de ouro em 2019.

Portugal decidiu explorar o ouro do Brasil numa época em que a Europa enfrentava uma forte crise econômica. Muito disso era explicado pela escassez de metais preciosos no mercado, algo causado após a euforia das descobertas das minas de prata pelos colonizadores da América espanhola. A prata, então, começou a se esgotar e passou a ser trocada para a fabricação de moedas entre comerciantes europeus e regiões asiáticas.

As minas de ouro descobertas no Brasil eram todas exploradas por colonos, que usavam mão de obra escrava para obter seu lucro. O governo português, por sua vez, cobrava 20% em cima de todo ouro descoberto no nosso país. Desses 20%, uma parte ficava para pagar as despesas públicas no Brasil e outra parte era usada pelo governo com obras públicas em Portugal. Inclusive, várias obras imponentes foram financiadas com esse dinheiro. O exemplo mais marcante disso é o luxuoso Palácio Nacional de Mafra, em Lisboa.

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A trajetória desse ouro também costumava ter um caminho padrão. Afinal, os mineiros, cada vez em maior número, tinham necessidade de consumir itens como roupas e alimentos. Os produtos eram comprados com o ouro obtido da mineração. Já os comerciantes que recebiam essa moeda, tinham que pagar com esse ouro para adquirir produtos de Lisboa. Sendo assim, tudo acabava parando na Europa de um jeito ou de outro.

Historiadores afirmam que essa exploração desenfreada por parte dos colonizadores deixou marcas expressivas no Brasil até hoje, desde problemas sociais e econômicos. Esses problemas, por sua vez, parecem tão grandes no momento que nem mesmo a “devolução do ouro” parece poder sanar — mesmo se pago com juros.

 

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Como a China dominou minerais críticos da transição

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Tecnologias modernas têm como peças-chave 17 elementos da tabela periódica: as terras raras, essenciais para inteligência artificial, chips, bombas e produção de energia limpa. A China domina a produção, define preços e transforma esses metais em moeda geopolítica.

A mineração é apenas o primeiro passo. O maior desafio está no processamento, separação e refino dos elementos, que são caros e complexos.

A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) estima que a China seja responsável por cerca de 61% da produção de terras raras e 92% do seu processamento. É justamente isso que confere ao país uma posição de força no tabuleiro da geopolítica.

As terras raras também são importantes para sistemas de defesa avançados, como fabricação de jatos militares, mísseis e sistemas de radar.

Isso garante à China um poder de barganha. Em resposta às tarifas impostas por Donald Trump, por exemplo, a China restringiu exportações de certos elementos, o que coloca as indústrias americanas de ponta em risco, como a de veículos elétricos o que coloca as indústrias americanas de ponta em risco, como a de veículos elétricos e a de defesa.

Não foi a primeira vez que terras raras entraram no centro de disputa dos EUA. Em 2022, Trump chegou a negociar com a Ucrânia a extração desses minerais em meio às conversas sobre um possível acordo de paz com a Rússia, ainda nos primeiros meses da guerra.

Hoje, países correm para diversificar suas fontes de suprimento e fortalecer suas próprias produções. “Mesmo antes do governo Trump, a Europa já havia acendido o alerta para os riscos da dependência externa de minerais estratégicos”, diz Júlio Nery, diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

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A ascensão chinesa

A China reconheceu o valor estratégico das terras raras nos anos 1960, quando os Estados Unidos ainda dominavam o mercado. Desde então, começou a copiar o modelo americano e comprou empresas estrangeiras – inclusive a maior empresa americana de ímãs de terras raras, a Magnequench.

Isso permitiu que a China tivesse em mãos as patentes, equipamentos e expertise técnica.  Nos anos 1990, o então líder chinês Deng Xiaoping (1904-1997), fez uma declaração que ficou famosa: “O Oriente Médio tem petróleo, a China tem terras raras.”

O investimento nesses minerais tornou-se uma estratégia de Estado. O país buscou consolidar a indústria, reduzindo-a para seis grandes empresas, em uma campanha chamada de “guerra secreta” contra a produção ilegal.

Também foram feitos investimentos em mapeamento geológico, a primeira etapa para o desenvolvimento da mineração, diz Guilherme Sonntag Hoerlle, geólogo e professor da Universidade Federal do Paraná.

“Há mais de 25 anos, a China investiu pesado em pesquisas nesses depósitos. Não porque tivesse reservas muito maiores, mas porque o governo chinês enxergou o potencial de longo prazo e manteve consistência”, diz.

Hoje, a China também tem consolidadas indústrias de carros elétricos, turbinas eólicas e robótica, que criam demanda interna significativa para terras raras e contribuem para gerar mais valor na cadeira.

Descaso ambiental

Esses avanços foram possíveis, em grande parte, porque a China operou sob quase nenhuma regra ambiental.

O processo de lixiviação (método químico usado para separar minerais), por exemplo, é feito em pilhas – o minério é empilhado e a solução química escoa dissolvendo os elementos; ou in situ, quando a reação é injetada diretamente no corpo mineral no próprio local.

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As soluções usam ácidos fortes, como sulfúrico, nítrico ou clorídrico, que podem se infiltrar no solo e contaminar água e ar. O processo também exige grandes volumes de água e gera resíduos sólidos que, se não forem tratados, se acumulam como passivo ambiental. Um dos casos mais emblemáticos é o lago de rejeitos tóxicos em Baotou, na Mongólia Interior.

A separação e o refino de terras raras usam mais energia que a mineração inicial. A estimativa é entre 9 e 13 vezes a mais para cada tonelada processada.

Agora, países como Japão, Austrália, Canadá e Arábia Saudita vêm estabelecendo limites em suas políticas de minerais críticos, para não depender só da China, segundo Nery, do Ibram. Nesse cenário, o Brasil teria uma “janela de oportunidade” comercial.

“Se criar as condições necessárias, [o Brasil] pode avançar na cadeia de valor e estimular a industrialização local”, diz.

O domínio chinês gera incertezas para investimentos em novas minas e refinarias em outros países. A imprevisibilidade do mercado e a manipulação de preços tornam esses projetos arriscados e afastam capital de companhias no ocidente.

As descobertas de minerais e os processos de extração são de alto risco e investimento. No caso do Brasil, apenas uma mina extrai e exporta – para a China – um produto mais “puro” de terras raras, sem a separação de cada elemento.

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