ECONOMIA
Mineração respondeu por 47% do saldo da balança comercial em 2024, mas encara novo imposto na fase final da reforma tributária

O desempenho das exportações de minérios – principalmente de minério de ferro – em 2024 renovam a percepção de sua importância para garantir bases sólidas à economia nacional. No ano passado, o saldo comercial do Brasil caiu 24,6% e o tombo poderia ser mais grave, já que 47% do saldo positivo da balança recebeu a contribuição das vendas externas de minérios. Mesmo assim, o setor está sob risco de não repetir resultados positivos como este. Veto do poder Executivo ao projeto da reforma tributária (PLP 68/2024) restabeleceu a incidência de imposto seletivo sobre as exportações minerais, o que vai na contramão das necessidades da economia e da competitividade da mineração brasileira. A afirmação é do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), ao divulgar os resultados de 2024 da indústria mineral.
Com a ameaça do imposto seletivo, o Brasil perde a oportunidade estratégica de estimular, em vez de encarecer, sua mineração, que, em 2024, recolheu R$ 93 bilhões em tributos. A expectativa do IBRAM, diz o diretor-presidente Raul Jungmann, é que as lideranças do Congresso Nacional reavaliem a questão e concordem em derrubar o veto, eliminando o risco do imposto seletivo, que, por si só, é inadequado para incidir sobre insumos de utilidade pública, caso dos minérios. “Na tramitação da reforma tributária na Câmara dos Deputados e no Senado Federal os parlamentares avaliaram que a incidência do imposto seletivo sobre as exportações não é aceitável. O veto, infelizmente, ignora esse posicionamento do Parlamento e se configura como um erro estratégico, político, econômico e constitucional. Assim, o Brasil pode ser o único a taxar minérios com o seletivo”, afirma Jungmann.
Afora a questão político-econômica, o novo imposto viola princípios básicos do Direito Tributário e compromete a capacidade de o país atrair investimentos para produzir mais minerais essenciais ao cumprimento da pauta global voltada a acelerar a transição energética. “O papel estratégico do Brasil na transição energética, por ser um relevante supridor de minérios, cresceu sobremaneira. Este cenário precisa ser levado em conta pelo Congresso e pelo governo, que defendem abertamente a transição energética e, além do mais, taxar as exportações de minérios, além de inconstitucional, é surreal em um país que precisa de superávits comerciais”, afirma o dirigente.
Sem espaço para mais impostos – Em 2024, as exportações minerais totalizaram cerca de 400 milhões de toneladas, o que representa aumento de 2,6% em relação a 2023, com receita de US$ 43,4 bilhões (quase 1% a mais do que em 2023). O minério de ferro foi responsável por 68,7% das exportações em 2024. No entanto, a receita gerada em dólar com as exportações de ferro caiu 2,4% em relação a 2023, o que demonstra que não há espaço para mais impostos.
Apesar da volatilidade dos mercados externos e do preço da tonelada dos minérios ao longo do ano, bem como da elevação de custos internos (a exemplo da aplicação da TRFM – taxa de fiscalização criada por estados e municípios), a indústria da mineração faturou mais, aumentou a empregabilidade, recolheu valor maior em tributos, em relação a 2023, e projeta investir ainda mais até 2029. É o que mostram os dados apurados pelo IBRAM.
Estabilidade marca 2024 da mineração brasileira
Em termo de números, 2024 foi um ano estável para o setor mineral, conforme previa o IBRAM no início do ano. Praticamente todos os indicadores, como faturamento, recolhimento de CFEM (royalty do setor), e exportações tiveram ligeiros aumento em relação a 2023, tendo como principal causa o crescimento mais lento da economia chinesa e da economia mundial.
A perspectiva para 2025 e 2026 é de manutenção desse cenário de estabilidade na produção e na exportação mineral brasileira, mantendo os patamares atuais, tendo em vista um cenário econômico mundial com inflações mais moderadas e o movimento de instituições financeiras e bancos para alívio e redução de taxas de juros. Ainda, observa-se a atuação do governo chinês em iniciativas para tentar impulsionar de alguma forma uma melhora no índice de crescimento da economia daquele país. As questões geopolíticas mundiais têm pressionado o preço de algumas commodities minerais, como o preço do ouro, por causa da busca de ativos seguros pelos investidores.
QUADRO – Principais dados da mineração em 2024
- Exportações: cerca de 400 milhões de toneladas (+ 2,6% em relação a 2023) / Receita de
US$ 43,4 bilhões (+ 0,9%). Minério de ferro = 68,7% das exportações. - Importações: 41,2 milhões de toneladas / Gasto = US$ 8,5 bilhões / – 23,1%.
- Saldo da balança comercial mineral = US$ 34,9 bilhões, equivalente a 47% do saldo da balança comercial brasileira (US$ 74,5 bilhões ou -24,6% em relação a 2023).
- Tributos: A arrecadação aumentou cerca de 9%, totalizando R$ 93,4 bilhões. O recolhimento de CFEM (royalty) totalizou R$ 7,5 bilhões (+ 8,6%).
- Empregos = Foram geradas 8.703 novas vagas (são 221,7 mil empregos diretos).
- Faturamento = R$ 270,8 bilhões (+ 9,1%).
- Minério de ferro = 59,4% do faturamento.
- Investimentos no Brasil – Previsão de US$ 68,4 bilhões para período 2025-2029.
Outros destaques da indústria da mineração em 2024
Sobre os investimentos do setor mineral, as projeções calculadas para até 2029 foram incrementadas em cerca de US$ 4 bilhões em relação ao período anterior (2024-2028), informa o IBRAM. O minério de ferro é alvo do maior volume de recursos (28,7%): US$ 19,59 bilhões (+13,4%). O segundo maior volume se referre às projeções dos investimentos socioambientais, que saltaram de US$ 10,67 bilhões para US$ 11,33 bilhões (+6,2%). Em seguida estão os aportes em logística: US$ 10,9 bilhões (+5,2%). Minas Gerais, Pará e Bahia receberão o maior volume de investimentos em mineração: US$ 16,5 bilhões; US$ 13,48 bilhões; US$ 8,99 bilhões, respectivamente.
Minas Gerais apresentou o maior faturamento anual em mineração em 2024: R$ 108,3 bilhões, crescimento de 4,5%. Pará registrou faturamento de R$ 97,6 bilhões, com alta de 14,4%. São Paulo registrou R$ 10,3 bilhões com alta de 12,9%. Entre as substâncias minerais, o minério de ferro apresentou 8,6% de elevação no faturamento. O cobre teve 25,2%, seguido por granito (17,9%) e ouro (13,3%).
As exportações de cobre aumentaram 20% em 2024, com receita de US$ 4,2 bilhões; as de ouro cresceram 13,5%, com receita de US$ 3,96 bilhões, mas decaíram 20,4% em toneladas (61,9 ton.); as de nióbio cresceram 5,5%, com receita de US$ 2,4 bilhões. A China foi o principal destino das exportações minerais brasileiras em 2024: para esse país foram destinadas 69,7% das exportações em toneladas.
Já as importações minerais foram provenientes principalmente dos Estados Unidos (19,8%), Rússia (16%), Austrália (13,3%) e Canadá (12,2%). O Brasil importou menos potássio (-25,4%), carvão (-23,3%), enxofre (-17,7%) e zinco (-12,5%).
Notícias
Ouro rompe US$ 3.000 pela 1ª vez na história: o que motiva alta e até onde ela vai?
Published
1 semana atráson
17 de março de 2025
O ouro ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 3.000 por onça, impulsionado pela forte demanda de bancos centrais, incertezas econômicas globais e as novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, que estão reconfigurando as regras do comércio mundial.
O metal subiu até 0,4% nesta sexta-feira, atingindo US$ 3.001,20 por onça.
A superação desse patamar simbólico reforça o papel secular do ouro como reserva de valor em tempos turbulentos e um indicador do medo nos mercados. Nos últimos 25 anos, o preço do metal valorizou dez vezes, superando até o S&P 500, que quadruplicou no mesmo período.
Com a expectativa de novas tarifas, os preços do ouro nos EUA dispararam acima das referências internacionais, levando comerciantes a enviarem grandes volumes do metal para o país antes da vigência dos impostos. Desde a eleição presidencial até 12 de março, mais de 23 milhões de onças de ouro, avaliadas em cerca de US$ 70 bilhões, foram depositadas nos cofres da Comex, a bolsa de futuros de Nova York. Esse fluxo contribuiu para um recorde no déficit comercial dos EUA em janeiro.
Ouro como refúgio em tempos de crise
Os picos no preço do ouro costumam refletir momentos de estresse econômico e político. O metal superou US$ 1.000 por onça após a crise financeira de 2008 e rompeu US$ 2.000 durante a pandemia de Covid-19. Depois de recuar para cerca de US$ 1.600 no pós-pandemia, o ouro voltou a subir em 2023, impulsionado pela diversificação dos bancos centrais em meio ao temor de sanções dos EUA contra o dólar.
Em 2024, a compra de ouro pela China impulsionou ainda mais a demanda, à medida que preocupações com a economia do país se intensificavam. Após a eleição de Trump, a tendência de alta se acelerou devido ao impacto das novas políticas comerciais.
“O ouro preserva valor em diversos cenários macroeconômicos adversos”, disse Thomas Kertsos, co-gestor de portfólio na First Eagle Investment Management LLC. “Apesar da volatilidade, historicamente o ouro sempre manteve seu poder de compra e liquidez.”
Mesmo diante de ventos contrários, como juros elevados e um dólar forte – que normalmente reduzem a atratividade do ouro –, o metal continuou a subir. Isso se deve, em parte, ao enfraquecimento do yuan, que estimulou compras de investidores chineses, e ao temor persistente da inflação global.
Muitos investidores também não quiseram perder a valorização do ouro, segundo Philip Newman, fundador da consultoria Metals Focus: “Quando o ouro rompeu US$ 2.400, US$ 2.500 e US$ 2.600, muitos apostavam que haveria uma correção, mas isso não aconteceu. Agora, ninguém quer ficar de fora do rali dos US$ 3.000.”
Trump e a escalada das incertezas
As políticas comerciais de Trump foram um dos principais motores da disparada do ouro em 2025. O presidente impôs tarifas sobre Canadá, México e União Europeia, além de sobretaxar produtos chineses e metais como aço e alumínio. Em resposta às retaliações europeias, os EUA indicaram que podem escalar a guerra comercial.
A administração Trump também sugeriu medidas drásticas na geopolítica global, como a possibilidade de uso de coerção econômica – ou até militar – para assumir controle da Groenlândia e do Canal do Panamá. Além disso, o governo americano surpreendeu aliados ao anunciar negociações diretas com a Rússia sobre a Ucrânia, gerando dúvidas sobre a segurança da Europa.
“Tudo isso cria uma enorme incerteza econômica global”, afirmou Ian Samson, gestor de portfólio da Fidelity em Cingapura.
Bancos centrais e a desdolarização
O movimento para diversificação das reservas dos bancos centrais também impulsionou o ouro. Desde que os EUA congelaram ativos russos após a invasão da Ucrânia, governos ao redor do mundo passaram a ver o dólar como um risco. A compra anual de ouro por bancos centrais dobrou desde então, passando de 500 para mais de 1.000 toneladas anuais.
A China, considerada um rival geopolítico dos EUA, ampliou suas compras de ouro em 2022. Embora o ritmo tenha desacelerado, outros países preencheram a lacuna, como Polônia, Índia e Turquia, que lideraram as compras no ano passado, segundo o World Gold Council.
Próximos alvos: US$ 3.500 no radar
Mesmo com a disparada recente, o ouro ainda está longe do seu recorde ajustado pela inflação, que foi de cerca de US$ 3.800 em 1980. Na época, uma combinação de baixo crescimento econômico, inflação descontrolada e tensões geopolíticas impulsionou a valorização do metal.
O avanço para US$ 3.000 veio mais rápido do que a maioria dos analistas previam. Ao longo do último ano, conforme o ouro superava marcos como US$ 2.000 e US$ 2.500, os analistas ajustaram suas previsões de alta. Agora, alguns já miram o próximo patamar.
“Para o ouro atingir US$ 3.500 por onça, a demanda de investidores precisaria crescer 10%”, escreveram analistas do Bank of America liderados por Michael Widmer em uma nota de 12 de fevereiro. “Isso é um grande desafio, mas não impossível.”