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Maiores reservas mundiais de lítio estão no Chile e na Austrália

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Neste século XXI, uma das riquezas mais importantes do planeta é o lítioO metal que serve de matéria-prima para baterias de celulares, de computadores portáteis, de veículos elétricos. Nesta sexta-feira (22), na segunda reportagem da série especial sobre esse novo ouro branco, o Jornal Nacional mostra onde estão as maiores reservas mundiais e explica por que o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, já é chamado no mercado internacional de “Vale do Lítio”.

É uma estrada sem volta. Enquanto fabricantes de veículos investem pesado para trocar a tecnologia dos motores à combustão, a indústria de autopeças rastreia fornecedores de matéria-prima para as baterias dos carros elétricos. Lítio, sobretudo.

Dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos mostram que 23 países do mundo têm reservas de lítio. Um estoque de 98 milhões de toneladas. Alguns ainda nem começaram a explorar o metal, outros estão engatinhando. E tem aqueles que já são grandes produtores mesmo sem as maiores reservas.

É o caso da Austrália, o segundo maior produtor mundial. O primeiro fica do outro lado do planeta, o Chile, que, sozinho, fornece quase a metade de todo o lítio consumido no mundo. O Chile, aliás, é uma das pontas do chamado “Triângulo do Lítio”, formado também por Argentina e Bolívia. Os três países concentram, juntos, 60% das reservas mundiais.

Nessa corrida, o Brasil está um pouco atrás. Mas estudos do Serviço Geológico Nacional indicam que há reservas no Rio Grande do Norte, na Paraíba, no sul da Bahia e no norte de Goiás. E já há minas em exploração no Ceará e em Minas Gerais. Por aqui, os estoques são estimados em 470 mil toneladas.

Segundo a Agência Internacional de Energia, em 2022, a demanda por baterias de íon de lítio no setor automotivo cresceu 65% na comparação com 2021. O maior fabricante mundial dessas baterias é a China. E na competição por esse grande consumidor, o Brasil tem uma vantagem.

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“A gente pega na mão aquele monte de sal e lá tem lítio. Mas não pensa que é fácil tirar o lítio de lá, é 0,3% no máximo, é um pouquinho de lítio. E no espudomênio, o teor é dez vezes mais, ou mais ainda que isso. O caso da Austrália igualzinho do Brasil. Ela só tem o espodumênio como fonte e não tem tanta jazida. Nós temos mais do que eles. Mas eles têm tecnologia, investiram pesado nisso. Coisa que o Brasil está começando a fazer agora”, explica o professor Henrique Eisi Toma

A aposta é alta. Tanto que em maio, investidores do mundo todo foram apresentados ao Vale do Jequitinhonha em um evento na Bolsa de Valores Nasdaq, em Nova York, nos Estados Unidos. Conheceram como “Vale do Lítio”, um projeto dos governos federal e de Minas Gerais para atrair capital para os municípios com as maiores reservas.

A multinacional canadense que vislumbrou o potencial do vale em 2016 exportou em 2023 para a China o primeiro carregamento do material rico em lítio. O pátio da veterana mineradora brasileira também tem montanhas de espodumênio pronto para seguir viagem.

Mas um caminhão, em outra unidade da companhia, está carregado com o produto final que vai nas baterias fabricadas pelos chineses: sal de lítio. Esse pó que alguns chamam de “ouro branco”. É um passo adiante no complexo processo industrial e, por isso, custa mais caro que a pedra minerada.

O economista e professor da Fundação Getúlio Vargas Paulo Gala diz que esse deveria ser o caminho: adicionar valor à riqueza que a natureza entrega quase pronta ao Brasil.

“A gente tem que ser rápido. A gente não pode deixar as empresas se consolidarem no mundo fora do Brasil. Então, dá tempo. Mas o governo precisaria ser ágil para desenhar um plano para utilizar essas vantagens brasileiras para transformar isso em empresas e fábricas que produzam aqui no Brasil”, afirma Paulo Gala.

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Isso quer dizer desenvolvimento. O prefeito de Araçuaí calcula que o orçamento da cidade vai crescer cerca de 80% só com a arrecadação de impostos pagos pelas mineradoras. Mas quer mais.

“Nós temos que começar a discutir essa questão da cadeia produtiva. Por que não se investir, por que não se trazer, principalmente, para o Vale do Jequitinhonha, para o Nordeste do Brasil, para as áreas de um menos IDH, para uma área mais sofrida socialmente? Por que não trazer implantações que possam cooperar com esse desenvolvimento, com a industrialização, uma fábrica de baterias?”, questiona Tadeu Barbosa de Oliveira, prefeito de Araçuaí.

A cidade já sente os impactos dessa corrida pelo lítio do Jequitinhonha, e sabe que é só o começo.

“Os preços foram lá em cima. O aluguel de R$ 1 mil foi para R$ 5 mil. Impactou bastante e vai impactar mais ainda. Espero que essas empresas se unam junto com poder público para que não tenha importação de mão de obra. O objetivo seria a formação de jovens a ser implantado no mercado de trabalho e não importar que está lá, qualificado bem amparado lá fora”, diz Marcos Antônio Costa Miranda, presidente da Associação Comercial de Araçuaí.

“Nós temos que deixar um legado para a sociedade, e fazer dessa riqueza, um desenvolvimento, mudar o cenário da região. É isso que a gente espera dessas mineradoras que estão vindo para o Brasil. Esse é o sonho de todo cientista, de todo pesquisador no Brasil, que o conhecimento não gere simplesmente riqueza, mas gere sustentabilidade e um bem estar social, algo que fica para as gerações”, diz Henrique Eisi Toma.

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Especialistas debatem proibição do mercúrio na extração de ouro

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Foto: Ton Molina

Vários setores econômicos já abandonaram o uso do mercúrio devido a seu impacto na saúde das pessoas e no meio ambiente. Mas o metal continua a ser largamente utilizado na extração de ouro, especialmente na Amazônia. Apenas entre 2018 e 2022, 185 toneladas de mercúrio de origem desconhecida podem ter sido utilizadas nos garimpos do país.

Em debate realizado nesta terça-feira (7) pelo jornal Correio Braziliense em parceria com o Instituto Escolhas, representantes do poder público, empresários e pesquisadores concordaram sobre a necessidade de pôr fim ao uso de mercúrio nos garimpos, mas divergiram sobre o que precisa ser feito até sua erradicação e sobre a conveniência de uma proibição imediata.

Ao abrir o evento, Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, destacou a importância de a discussão da erradicação do mercúrio e de alternativas viáveis economicamente a esse insumo da mineração acontecer às vésperas da COP30, que será realizada em novembro na cidade  de Belém (PA).

Primeiro convidado a falar, Eloy Terena, secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), afirmou que o garimpo ilegal está presente em 26 Terras Indígenas, de forma mais intensa e preocupante em quatro delas: Kayapó, Munduruku, Yanomami e Sararé. “O garimpo é vetor de violência, desmatamento, contaminação das águas e desestruturação social.”

Jair Schmitt, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, responsável pelas ações de fiscalização do órgão, listou as iniciativas tomadas pelo instituto no atual governo e usou uma imagem forte para falar da “explosão do garimpo ilegal na Amazônia” de 2017 a 2023. “Quando a gente olha as imagens dos satélites, o que a gente está vendo ali é a proliferação de um grande câncer”, afirmou.

 

Controles sobre o uso do mercúrio

Depois das falas inaugurais de Terena e Schmitt, teve início a primeira mesa do debate, que discutiu “Controles sobre o uso do mercúrio: desafios e perspectivas”. Renato Madsen Arruda, diretor substituto da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, afirmou que a PF tem como objetivo principal, ao lado de outros órgãos da administração pública, atacar o crime organizado que cerca a atividade da mineração ilegal.

“Não é aquele garimpeiro, aquele trabalhador braçal que está ali nos rincões da Amazônia que está acumulando essa riqueza. Há outros atores que estão acumulando essa riqueza e financiando a atividade. A estratégia da Polícia Federal tem sido principalmente descapitalizar esses atores que circundam a atividade da mineração ilegal e que enriquecem em prejuízo do meio ambiente e das comunidades que vivem na região amazônica”, disse Arruda.

O deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), autor de um projeto de lei que proíbe o uso do mercúrio em atividades de mineração, lembrou que durante os governos Michel Temer (2016 a 2018) e Jair Bolsonaro (2019 a 2022) a “atividade minerária ilegal explodiu de forma extraordinária”. E lamentou a força política de parlamentares que buscam flexibilizar a legislação do setor. “Há um lobby muito forte da mineração dentro do Congresso que, por vezes, trabalha de forma conjunta com o lobby da mineração ilegal”, disse.

Diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues destacou que o uso do mercúrio na mineração já é altamente regulado, citando a necessidade de licenciamento ambiental e de autorização, pelo Ibama, de sua importação – o Brasil não produz mercúrio. “O que a gente podia fazer em termos de regulação para tentar diminuir a periculosidade do uso dessa substância já foi feito.”

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Apesar disso, os resultados positivos não apareceram e é hora de “mudar a chave”. “Esse esforço que a gente precisa fazer para usar o mercúrio numa condição um pouco mais segura é tão grande que eu acho que a gente poderia pegar esse mesmo esforço e colocar nas alternativas”, disse. E a melhor alternativa é a “erradicação”, declarou.

“Acho que, de fato, a gente precisa caminhar em direção à proibição total do mercúrio na extração de ouro, como a gente fez em outros segmentos.” A pesquisadora parabenizou Nilto Tatto, a seu lado na mesa, por apresentar o projeto que proíbe o uso do mercúrio.

O último a falar na primeira mesa, Giorgio de Tomi, professor titular da Escola Politécnica da USP e Coordenador Técnico do Projeto Ouro Sem Mercúrio, defendeu a importância do Estado na mudança da realidade do garimpeiro que atua de forma ilegal. “Existe a vontade dos garimpeiros de mudar e evoluir”, afirmou. “Mas eles precisam de ajuda.”

“Hoje eles trabalham em regiões remotas, sem apoio nenhum. A única presença do Estado, quando tem, é na hora de reprimir, fiscalizar”. Para De Tomi, os que usam mercúrio no garimpo ilegal “precisam de apoio técnico, econômico e de Estado para facilitar essa transição”.

Três convidados falaram entre as duas mesas do debate. Julevânia Olegário, diretora do Departamento de Desenvolvimento Sustentável na Mineração (DDSM) do Ministério de Minas e Energia (MME), defendeu a eliminação do mercúrio nos garimpos, mas disse ser importante que o Estado brasileiro ajude a capacitar as pessoas envolvidas na extração de ouro, já que a “atividade é feita, na maioria das vezes, por comunidades tradicionais e vulneráveis”. Afirmou que é preciso fomentar alternativas ao mercúrio que sejam “economicamente viáveis”.

Diretora do Departamento de Qualidade Ambiental do Ministério de Meio Ambiente, Thaianne Resende alertou para o impacto do mercúrio na saúde e no meio ambiente. “O mercúrio é silencioso, invisível, mas deixa marcas profundas na saúde, na água e na floresta”, afirmou.

Miguel Castro, ponto focal regional para Latam e Caribe do Centro CER da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), destacou a preocupação da organização em estabelecer padrões elevados de políticas públicas entre os 38 países-membros e países parceiros, como o Brasil.

Para a OCDE, a estabilidade das cadeias de fornecimento deve caminhar junto com a sustentabilidade. “Essa visão reforça a necessidade de uma mineração responsável, não apenas como uma exigência, mas também como uma oportunidade de desenvolvimento inclusivo e a longo prazo.”

 

Alternativas ao uso do mercúrio

Abrindo a segunda mesa, que debateu “Alternativas ao uso do mercúrio: para onde vamos?”, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas, criticou a obrigação legal de que todo o ouro que sai dos garimpos precisa ser vendido para Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, as DTVMs. Cinco delas dominam hoje o mercado brasileiro de ouro.

“Nos últimos anos essas instituições financeiras que tinham ou que tem autorização do Banco Central comercializaram e financiaram o ouro ilegal que circulou pelo Brasil e ganhou o exterior”, afirmou. “Quando a gente fala de lavagem de ouro, essas instituições sempre foram um ponto de lavanderia.”

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A diretora do Escolhas defendeu a abertura de mercado, no qual uma indústria possa comprar diretamente de quem produz o ouro de forma responsável. “A gente não vai conseguir incentivar [as boas práticas] se a gente não tirar do meio do caminho as forças que até hoje só incentivaram o mercado ilegal.”

Larissa destacou ainda o fato de existirem hoje alternativas rentáveis ao mercúrio. “Muitas pessoas me perguntam: qual a alternativa ao mercúrio? Às vezes, a resposta não é tão complicada assim. Há algumas questões de tecnologia que às vezes são mais difíceis. Mas existem garimpos produzindo ouro sem mercúrio. Utiliza o quê no lugar? Nada. Utiliza água. A força mecânica da gravidade.”

Gilson Camboim, presidente na Federação das Cooperativas de Mineração do Estado de Mato Grosso, listou uma série de avanços tecnológicos que estão sendo desenvolvidos em centros de pesquisa e podem substituir o mercúrio – como o uso de nanopartículas de magnetita e o extrato das folhas do pau-de-balsa – e alguns que já estão sendo usados pelos garimpeiros – como o processo que une bombeamento de água e filtragem por meio de calhas.

Camboim destacou o papel do cooperativismo na busca de soluções que substituam o mercúrio. “O cooperativismo foi reconhecido pela ONU neste ano de 2025 como um mecanismo para o aprimoramento das atividades econômicas. Vamos lutar para conseguir chegar a este ponto, de eliminar o uso do mercúrio.”

Para Eduardo Gama, diretor de operação da startup Certimine, há muitos desafios para a substituição do mercúrio, um deles o fato de ser eficiente. “O mercúrio é muito tolerante e muito democrático. Aceita folha, areia. O que você alimentar, ele vai tirar ouro. O mesmo não pode ser dito sobre os outros métodos. Eu gosto de falar que o mercúrio é a força bruta, enquanto o resto é ajuste fino”.

Gama destacou a dificuldade de os pequenos mineradores irem para métodos mais sofisticados, pois não conseguem financiamento. “Eles ficam presos numa ratoeira, pois não conseguem migrar para outro regime. E precisam daquela atividade para sobreviver.”

Elena Crespo, professora titular da Universidade Federal do Pará e coordenadora do Instituto Amazônico do Mercúrio, lembrou que a Amazônia é responsável por 80% das emissões de mercúrio na América do Sul e a segunda região do mundo que mais emite a substância.  E destacou que o ouro não fica na Amazônia. “Mas somos os primeiros a receber todas as consequências, as mais graves.” Entre elas, danos ao desenvolvimento das crianças, que passam a ter problemas de aprendizagem. “Falamos aqui de comprometimento das gerações futuras.”

Crespo disse acreditar que os garimpeiros da Amazônia querem mudar esse panorama. “Ninguém quer se expor ou expor sua família simplesmente por ganância”, afirmou a pesquisadora. “Dando oportunidade para eles, vão tornar esse quadro muito mais sustentável.”

Assista à integra do debate no canal do Correio Braziliense no YouTube.

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