A falta de uma política estadual de geologia e de recursos minerais em Mato Grosso barra o desenvolvimento econômico e social e pode tornar obras públicas mais caras, avalia o presidente da Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo), Caiubi Kuhn. Apesar de estar prevista na Constituição de 1989, essa política ainda não foi desenvolvida no Estado após 35 anos.
“Quando se fala em geologia, pensam em mineração, mas o mapeamento geológico não é só para o minerador. Conhecer a geologia pode ajudar a prefeitura a utilizar os recursos minerais. Conhecer os aquíferos, or exemplo, mostra onde estão os melhores locais para desenvolvimento, sabendo que ali o produtor terá água ara se desenvolver”, defende.
“Para construir uma casa precisa de areia, brita, tijolo, e tudo isso vem da mineração. Se conseguimos ter essa produção mais próxima dos lugares de consumo, conseguimos auxiliar no acesso à moradia, desenvolvimento social, boa aplicação dos recursos públicos. Então, pensar nessa política e no desenvolvimento contínuo para sermos referência nessa área, é fundamental”, analisa.
Caiubi explica que o mapeamento geológico poderia ser muito útil, inclusive, para fazer uma boa gestão de risco de desastres naturais em situações como o que ocorre atualmente em Chapada dos Guimarães, com os recentes deslizamentos e interdições na MT-251, no trecho do Portão do Inferno. Em entrevista ao RDae, o geólogo chegou a criticar o Poder Público, afirmando que a política de gestão de risco feita pelo Governo do Estado atualmente é “oração”. Além da falta dessa política de gestão, também não há a política de recursos naturais.
“Se compararmos, Minas Gerais tem informações geológicas em um detalhamento adequado em todo o Estado. Minas é mapeado em uma escala de 1 para 100 mil, ou seja, cada centímetro em uma escala representa 1 km de Minas Gerais. Em Mato Grosso, o mapeamento é de 1 para 1 milhão, ou seja, cada centímetro representa 10 km. Não conseguimos ter uma análise adequada do que é a realidade geológica e dos recursos do Estado. Isso prejudica muito o desenvolvimento”, exemplifica.
Segundo o especialista, até obras públicas podem se tornar mais caras sem um mapa geológico adequado, uma vez que o executor da construção pode procurar o minério necessário em outro Estado, por exemplo, quando poderia encontrar próximo de onde o projeto está sendo feito.
“Pode ter um recurso mineral que é importante para a construção de uma obra. Por exemplo, em uma ferrovia, precisam de brita. Se a empresa não conhece os lugares onde têm brita, vai trazer deu um outro ponto mais longe, quando poderia trazer de muito mais perto. Nesse caso, vai emitir mais CO2, encarecer o frete, poluir mais, ter um custo maior. Vários impactos em um simples exemplo”, detalha.
Caiubi pontua que Mato Grosso é um estado grande e há muito potencial para encontrar elementos importantes no desenvolvimento energético e tecnológico.
“Se queremos trabalhar um sistema de desenvolvimento sustentável, precisa de uma utilização adequada dos recursos minerais. Até para plantar soja, usa-se calcário para corretivo do solo, MPK para fertilização e tudo isso vem da mineração. Ao construir uma rodovia, uma casa, comprar um celular, tudo vem da mineração. Então é preciso trabalhar de uma forma harmônica com os outros setores para ter uma preservação ambiental e desenvolvimento social e econômico”, afirma.
FALTA DE INTERESSE
A política estadual de geologia e recursos minerais vem sendo discutida e pedida pelo setor há anos. Em I do ano passado, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso instalou uma Câmara Setorial Temática (CST) para idos sobre a mineração no Estado e nessa discussão. Na ocasião, Caiubi pediu a criação de uma lei que abeleça essa política. No entanto, nenhum plano saiu do papel. Para o geólogo, falta interesse das autoridades.
“O que barra é falta de interesse. A AL deveria priorizar, o Estado deveria priorizar recursos minerais e gestão risco. Mato Grosso, só do Cfem (Compensação Financeira pela Exploração Mineral) arrecadou mais de R$ 100 milhões anual e uma simples interdição de rodovia, como a de Chapada, pode causar um prejuízo de milhões. O cor mineral é fundamental para o desenvolvimento e para isso precisa ter investimento, recursos, órgão estruturado. Não está sendo feito de forma adequada, mas espero que em 2024 comecem a priorizar esses tores”, desabafa.