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O setor mineral em Mato Grosso

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CAIUBI KUHN

O setor mineral no estado de Mato Grosso, nos últimos 20 anos, tem apresentado um crescimento significativo. O desenvolvimento do agronegócio no estado tem uma relação direta com o setor mineral devido à necessidade de corrigir a acidez do solo por meio da aplicação de calcário. A produção de ouro é outra área em crescimento no estado, destacando-se pela produção em cooperativas de garimpeiros. Mas quanto esse setor contribui para o estado, quais são os desafios presentes e as perspectivas futuras?

Para o leitor dimensionar o crescimento vivenciado nas últimas décadas, basta analisar os números. Em 2004, a arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) era de 2,9 milhões, tendo como principal produto o calcário dolomítico. Dez anos depois, em 2014, a arrecadação do CFEM saltou para 19,3 milhões, impulsionada pelo crescimento da produção de calcário e ouro. Em 2023, foram arrecadados 114,4 milhões de CFEM.

Os números entre janeiro e novembro indicam que, neste ano de 2024, ocorrerá um novo recorde. Até o momento, foram arrecadados mais de 111 milhões, e o valor deve superar os 120 milhões quando os dados de dezembro forem computados. O resultado crescente dos últimos anos continua sendo impulsionado pela produção de calcário e ouro, mas agora conta também com uma participação significativa de minérios de cobre, zinco e chumbo, puxada principalmente pela produção da Nexa em Aripuanã. A produção de água mineral, areia, cassiterita e granito também gera arrecadações expressivas.

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O estado de Mato Grosso atualmente é o quinto em arrecadação de CFEM no Brasil, ficando atrás apenas de Minas Gerais, Pará, Goiás e Bahia. Além da CFEM, o estado criou recentemente a Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (TFRM), que, conforme previsões do governo, deve arrecadar valores superiores a R$ 44 milhões por ano.

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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