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Nem tudo que reluz é ouro

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Por Pedro Eugenio Procópio*

 

Nos últimos anos, a temática da sustentabilidade tem sido um assunto cada vez mais presente em diferentes segmentos da indústria. No âmbito extrativista, a mineração responsável do ouro visa conciliar a prosperidade econômica com a preservação do meio ambiente. Em contraste a práticas controversas e prejudiciais, essa abordagem adota uma série de medidas para mitigar os impactos ambientais causados pela extração do metal, promovendo, ao mesmo tempo, a preservação da biodiversidade e o bem-estar das comunidades envolvidas. Mas para que isso aconteça é fundamental incluir essas práticas em todas as etapas da mineração.

A primeira etapa deste processo é voltada para a pesquisa, que abrange diferentes atividades de campo e de laboratório. Aqui, podemos destacar os levantamentos geológicos, geofísicos e geoquímicos, aberturas de escavações, sondagens das rochas e análises das amostras minerais coletadas. Neste sentido, é crucial implementar avaliações de impacto ambiental para identificar áreas sensíveis e estabelecer restrições à exploração em ecossistemas vulneráveis. Além disso, para minimizar a degradação do solo e a perturbação de habitats naturais, as empresas mineradoras devem adotar técnicas menos invasivas, como o sensoriamento remoto.

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Durante a fase de extração e processamento, a utilização de água é um dos maiores desafios enfrentados pela indústria mineradora. Portanto, a implementação de sistemas eficientes e responsáveis de gestão hídrica surge como uma solução para diminuir o consumo e garantir um tratamento adequado de efluentes. Na mesma perspectiva, outro ponto importante para contribuir com uma mineração mais sustentável é o tratamento, reciclagem e reaproveitamento de rejeitos, estéreis e resíduos gerados durante a lavra.

As emissões de gases de efeito estufa também fazem parte do escopo de ações sustentáveis adotadas na produção de um ouro mais limpo. Neste sentido, é urgente a implementação de estratégias de descarbonização, como a utilização de fontes de energia renováveis, uso inteligente de combustível, ou até mesmo, a substituição de veículos a diesel por opções elétricas, abastecidas por fontes renováveis.

Por último, a rastreabilidade e o monitoramento do ouro são aspectos fundamentais para comprovar a origem do metal e combater a extração ilegal. A partir desta prática, é possível aumentar a transparência no setor, por meio da divulgação de todos os processos e etapas que compõem a cadeia produtiva. Em termos de responsabilidade social, o mecanismo tem se tornado um forte aliado na identificação e proibição de materiais advindos de terras indígenas, por exemplo.

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É importante destacar que a sustentabilidade na mineração de ouro é uma busca contínua e envolve o engajamento de várias partes interessadas, como empresas, governos e comunidades locais. Apesar de existirem obstáculos, sobretudo em relação ao alto custo financeiro da adesão de métodos mais ecológicos, essas práticas têm sido cada vez mais inseridas na cultura das empresas, especialmente tratando-se de sua importância na avaliação de investimentos por acionistas. Nos próximos anos, podemos esperar o surgimento de mais soluções e alternativas inovadoras que auxiliem a indústria mineradora a reduzir seus impactos socioambientais.

 

* Pedro Eugenio Procópio é Diretor de Operações da Fênix DTVM

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O Brasil precisa assumir seu papel na corrida dos minerais críticos

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O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. Com vastas reservas de lítio, nióbio, grafita, terras raras e outros minerais estratégicos, o país tem condições de se tornar protagonista da transição global para a energia limpa e a economia digital. Mas, para isso, é preciso abandonar improvisos e avançar em direção a uma política pública sólida e confiável.

O recente leilão da Agência Nacional de Mineração (ANM), no qual uma empresa recém-criada em Minas Gerais arrematou áreas de exploração maiores que o Distrito Federal, expôs de forma contundente a fragilidade do atual modelo. Ao permitir que agentes sem histórico ou capacidade financeira assumam concessões dessa magnitude, o Estado transmite o pior sinal possível: afasta investidores sérios e transforma recursos estratégicos em ativos especulativos.

Minerais críticos não são commodities comuns. Eles são a espinha dorsal da economia verde e digital, presentes em baterias, semicondutores, turbinas eólicas, telecomunicações e aplicações de defesa. Quem dominar sua produção, processamento e integração industrial terá papel decisivo na geopolítica do século XXI. Por isso, não se trata apenas de explorar reservas, mas de integrá-las a uma política industrial e tecnológica nacional.

Outros países compreenderam isso e já se moveram. A Turquia transformou suas reservas de boro em instrumento de influência industrial e diplomática, equilibrando cooperação entre Ocidente e China. A Índia lançou em 2025 a sua “National Critical Minerals Mission”, centralizando estratégia, conferindo ao governo federal autoridade exclusiva sobre os leilões e prevendo mais de mil projetos de exploração até 2031. O Canadá, por sua vez, vinculou sua política de minerais críticos diretamente à agenda climática e industrial, incentivando o refino doméstico e a agregação de valor local.

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O Brasil não parte do zero. Em 2024, o IBRAM lançou o “Green Paper”: Fundamentos e Diretrizes para a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE), propondo eixos estruturantes como definição clara da lista de minerais prioritários, integração com a transição energética, governança democrática, agregação de valor local, circularidade e inovação. Esse documento já oferece um caminho consistente para estruturar uma política de Estado.

Mais recentemente, o próprio governo federal reconheceu a urgência do tema. O Ministério de Minas e Energia anunciou que a Política Nacional de Minerais Críticos será lançada ainda em 2025. Na Câmara dos Deputados, tramita o PL 2780/2024, que institui a PNMCE e cuja aprovação é esperada antes da COP30, em novembro. A ANM também criou um departamento dedicado exclusivamente a minerais críticos e estratégicos, fortalecendo a institucionalidade do tema.

Além disso, foi lançado, em conjunto com o setor privado, um novo Green Paper sobre minerais críticos e a COP30, reforçando o papel do Brasil na diplomacia global desses recursos. Estas iniciativas apontam para um alinhamento promissor entre Executivo, Legislativo e setor privado. Mas para que se traduzam em confiança e atração de investimentos, é indispensável que o país estabeleça regras claras de pré-qualificação, exigindo capacidade técnica e financeira robusta de qualquer empresa interessada em concessões. Não podemos permitir que aventureiros se apossem de ativos vitais à transição energética e à reindustrialização.

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Se quisermos protagonismo, concessões devem ser condicionadas a compromissos de investimento real, processamento local e integração às cadeias produtivas nacionais. Mais que extrair, é preciso refinar, industrializar e inovar no Brasil.

A corrida global pelos minerais críticos não é apenas sobre geologia – é sobre visão, credibilidade e soberania. O Brasil tem os recursos, as propostas e as instituições necessárias para se tornar referência mundial. Agora falta transformar boas intenções em política pública efetiva e duradoura. A hora de agir é agora.

JEAN PAUL PRATES

*Mestre em Política Energética e Gestão Ambiental pela Universidade da Pensilvânia e Mestre em Economia da Energia pelo IFP School (Paris). Foi presidente da Petrobras (2023–2024) e senador da República (2019–2023)

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