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Na corrida do ouro moderna, americanos vendem enquanto asiáticos seguem comprando

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Americanos que antes corriam para comprar barras e moedas de ouro agora estão se desfazendo desses ativos, enquanto investidores na Ásia continuam firme nas compras. O movimento revela visões divergentes sobre a economia global em lados opostos do planeta.

Nos Estados Unidos, essa mudança sugere que investidores individuais — que guardam ouro em casa ou em cofres bancários, num perfil parecido com o de traders do mercado de ações — estão mais tranquilos diante das tarifas de Donald Trump, do aumento da dívida pública e das tensões geopolíticas. E mais: estão prontos para realizar lucro após a impressionante alta do metal nos últimos dois anos.

Conhecidos como investidores de varejo, esses americanos vão na contramão dos movimentos do mercado mais amplo, onde investidores de alta renda, fundos soberanos e bancos centrais continuam comprando agressivamente o metal como proteção. Já na Ásia, compradores estão trocando joias por barras e moedas de ouro.

“Muitos desses investidores de varejo tendem a se alinhar com o Partido Republicano. E, concordando ou não com a política tarifária, eles gostam da forma como Trump conduz o assunto”, disse Philip Newman, diretor da consultoria Metals Focus. “Na visão deles, há menos motivos para comprar ouro.”

O mercado americano está tão saturado de barras e moedas que muitos distribuidores reduziram os prêmios de venda ao menor nível em seis anos para tentar escoar o estoque. E quem quer vender, agora precisa pagar uma taxa às distribuidoras para se desfazer do metal.

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Na Money Metals Exchange, por exemplo, uma moeda de ouro American Eagle de uma onça é vendida atualmente com um ágio de US$ 20 sobre o preço à vista — quatro anos atrás, esse valor era de US$ 175. Já quem vende hoje paga cerca de US$ 20 à plataforma para repassar o metal, enquanto em 2021 recebia um bônus de US$ 121.

O excesso de oferta derrubou as vendas de moedas recém-produzidas. A venda da American Eagle, principal indicador da demanda de varejo nos EUA, despencou mais de 70% em maio na comparação anual.

A demanda por barras e moedas vem caindo há três anos na América do Norte e Europa Ocidental, enquanto cresce no restante do mundo. Segundo a Metals Focus, 2024 registrou a maior divergência desde 2014, e a tendência continuou no primeiro trimestre de 2025 — puxada especialmente pelo movimento de venda nos EUA.

Na Ásia-Pacífico, por outro lado, a demanda por barras e moedas subiu 3% no primeiro trimestre. Na China, o aumento foi de 12% na comparação anual. Coreia do Sul, Singapura, Malásia e Indonésia registraram altas superiores a 30%, segundo dados do World Gold Council.

A preocupação inicial de que China e Ásia seriam os maiores prejudicados pelas tarifas de Trump impulsionou uma demanda “muito forte” por ouro na região, segundo Kenny Hu, estrategista de commodities do Citigroup. Além disso, a desvalorização das moedas locais continua levando os asiáticos a ver o ouro como o principal ativo de proteção — o que tem sustentado a alta do metal desde 2024.

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“Investidores no Sudeste Asiático, sem muitas alternativas, passaram a ver o ouro como um ativo estratégico”, disse Brian Lan, diretor da corretora GoldSilver Central, de Cingapura.
“Quem tem memória da guerra entende que o ouro é um seguro em tempos de incerteza.”

Nos EUA, a realização de lucros também pesa: o ouro subiu 59% desde o início de 2024, chegando a US$ 3.274,33 por onça na sexta-feira. Mas os grandes bancos de Wall Street divergem sobre os próximos passos. O Goldman Sachs manteve a projeção de US$ 4.000 até 2026, o Morgan Stanley espera US$ 3.800 até o fim deste ano e o Citigroup aposta em queda abaixo de US$ 3.000 em 2026.

“Quando há medo, as pessoas compram ouro e saem dos ativos de risco”, disse Hu, do Citi.
“Agora, talvez estejam achando que está tudo bem. As tarifas não são tão ruins assim. Tudo será renegociado. A geopolítica vai esfriar. E o crescimento dos EUA pode não ser tão fraco.”

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Como a China dominou minerais críticos da transição

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Tecnologias modernas têm como peças-chave 17 elementos da tabela periódica: as terras raras, essenciais para inteligência artificial, chips, bombas e produção de energia limpa. A China domina a produção, define preços e transforma esses metais em moeda geopolítica.

A mineração é apenas o primeiro passo. O maior desafio está no processamento, separação e refino dos elementos, que são caros e complexos.

A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) estima que a China seja responsável por cerca de 61% da produção de terras raras e 92% do seu processamento. É justamente isso que confere ao país uma posição de força no tabuleiro da geopolítica.

As terras raras também são importantes para sistemas de defesa avançados, como fabricação de jatos militares, mísseis e sistemas de radar.

Isso garante à China um poder de barganha. Em resposta às tarifas impostas por Donald Trump, por exemplo, a China restringiu exportações de certos elementos, o que coloca as indústrias americanas de ponta em risco, como a de veículos elétricos o que coloca as indústrias americanas de ponta em risco, como a de veículos elétricos e a de defesa.

Não foi a primeira vez que terras raras entraram no centro de disputa dos EUA. Em 2022, Trump chegou a negociar com a Ucrânia a extração desses minerais em meio às conversas sobre um possível acordo de paz com a Rússia, ainda nos primeiros meses da guerra.

Hoje, países correm para diversificar suas fontes de suprimento e fortalecer suas próprias produções. “Mesmo antes do governo Trump, a Europa já havia acendido o alerta para os riscos da dependência externa de minerais estratégicos”, diz Júlio Nery, diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

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A ascensão chinesa

A China reconheceu o valor estratégico das terras raras nos anos 1960, quando os Estados Unidos ainda dominavam o mercado. Desde então, começou a copiar o modelo americano e comprou empresas estrangeiras – inclusive a maior empresa americana de ímãs de terras raras, a Magnequench.

Isso permitiu que a China tivesse em mãos as patentes, equipamentos e expertise técnica.  Nos anos 1990, o então líder chinês Deng Xiaoping (1904-1997), fez uma declaração que ficou famosa: “O Oriente Médio tem petróleo, a China tem terras raras.”

O investimento nesses minerais tornou-se uma estratégia de Estado. O país buscou consolidar a indústria, reduzindo-a para seis grandes empresas, em uma campanha chamada de “guerra secreta” contra a produção ilegal.

Também foram feitos investimentos em mapeamento geológico, a primeira etapa para o desenvolvimento da mineração, diz Guilherme Sonntag Hoerlle, geólogo e professor da Universidade Federal do Paraná.

“Há mais de 25 anos, a China investiu pesado em pesquisas nesses depósitos. Não porque tivesse reservas muito maiores, mas porque o governo chinês enxergou o potencial de longo prazo e manteve consistência”, diz.

Hoje, a China também tem consolidadas indústrias de carros elétricos, turbinas eólicas e robótica, que criam demanda interna significativa para terras raras e contribuem para gerar mais valor na cadeira.

Descaso ambiental

Esses avanços foram possíveis, em grande parte, porque a China operou sob quase nenhuma regra ambiental.

O processo de lixiviação (método químico usado para separar minerais), por exemplo, é feito em pilhas – o minério é empilhado e a solução química escoa dissolvendo os elementos; ou in situ, quando a reação é injetada diretamente no corpo mineral no próprio local.

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As soluções usam ácidos fortes, como sulfúrico, nítrico ou clorídrico, que podem se infiltrar no solo e contaminar água e ar. O processo também exige grandes volumes de água e gera resíduos sólidos que, se não forem tratados, se acumulam como passivo ambiental. Um dos casos mais emblemáticos é o lago de rejeitos tóxicos em Baotou, na Mongólia Interior.

A separação e o refino de terras raras usam mais energia que a mineração inicial. A estimativa é entre 9 e 13 vezes a mais para cada tonelada processada.

Agora, países como Japão, Austrália, Canadá e Arábia Saudita vêm estabelecendo limites em suas políticas de minerais críticos, para não depender só da China, segundo Nery, do Ibram. Nesse cenário, o Brasil teria uma “janela de oportunidade” comercial.

“Se criar as condições necessárias, [o Brasil] pode avançar na cadeia de valor e estimular a industrialização local”, diz.

O domínio chinês gera incertezas para investimentos em novas minas e refinarias em outros países. A imprevisibilidade do mercado e a manipulação de preços tornam esses projetos arriscados e afastam capital de companhias no ocidente.

As descobertas de minerais e os processos de extração são de alto risco e investimento. No caso do Brasil, apenas uma mina extrai e exporta – para a China – um produto mais “puro” de terras raras, sem a separação de cada elemento.

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