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PARÁ LIDEROU ARICULAÇÃO

Emendas à reforma tributária visam tributar a exportação de minério e petróleo

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A votação do projeto da reforma tributária (EC 45) na Câmara Federal, em Brasília, tem contado com uma forte articulação – especialmente do Pará – pela tributação de produtos “não renováveis”, ou seja, de minérios e de petróleo, em operações de exportação. É uma tentativa de rever a desoneração de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aplicada há 27 anos pela Lei Kandir (LC 87/1996) no caso dos minérios. Duas emendas foram apresentadas ao relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), sendo uma pela bancada do União Brasil, e outra do deputado José Priante (MDB-PA), líder da bancada do Pará.

O secretário estadual da fazenda, René Sousa, está em Brasília participando das articulações pela aprovação dessas emendas. Ele afirma que aprovação amplia a arrecadação paraense em R$ 5 bilhões, independente de qual delas seja aprovada. A proposta já tem o apoio do Comitê Nacional dos Secretários Estaduais da Fazenda (Comsefaz) e o próprio governador Helder Barbalho tem contatado lideranças nacionais do MDB em busca de apoio.

“O imposto não prejudica a competitividade de novas empresas. Mostrei que a lucratividade é tão alta, chega a 30% de lucro líquido. A tributação de 5% daria competitividade às empresas e deixariam algo para o estado”, acrescentou o René referindo-se à emenda do União. “Estamos tentando proteger o Pará para ver se pega uma parte da tributação da exportação ou que aumente o valor da CFEM”, acrescenta, já se referindo sobre o aumento dos royalties pretendido pela emenda de Priante.

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Emenda do União

A emenda do União Brasil visa alterar o artigo 156-A do projeto visa criar uma exceção à incidência de isenção de imposto de exportações para o caso de produtos primários de origem não renovável, porém assegura ao exportador “a manutenção dos créditos relativos às operações nas quais seja adquirente de bem, material ou imaterial, ou serviço”. O texto não menciona quanto será alíquota, mas o secretário René antecipou que a ideia é de 7%.

“Além de enormes prejuízos aos estados, DF e municípios – estimados em R$ 46 bilhões somente em 2020 – a solução de um problema conjuntural (desequilíbrio na balança comercial) através de um mecanismo perene como a LC 87/96, gerou desdobramentos estruturais para a economia e contribuiu para a desindustrialização das exportações brasileiras”, justifica o texto da emenda.

“Em 2021, por exemplo, o país produziu 430 milhões de toneladas de minério de ferro, dos quais 83% (350 milhões de toneladas) foram exportados. No caso do petróleo, 46% da extração destinou-se ao mercado externo, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP)”, menciona a emenda do União.

A emenda aglutinativa – quando pode ser incluída pelo relator no texto do projeto – foi apresentada na última terça-feira, 4. Aguinaldo poderá aprová-la ou não, pois a fase de apresentação de emendas em plenário já se encerrou. O deputado Celso Sabino (União-PA) contou que as bancadas do União e do MDB estão apoiando a emenda, assim como está havendo um diálogo com a do PT. “O fato decisivo para ter essa vitória, que será um marco para o Pará, é o relator Aguinaldo acatar a emenda. Ele está sensível, há possibilidade grande de aprovar”, destacou.

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Emenda de Priante

Já a emenda aglutinativa do deputado Priante, considerada como alternativa à emenda do União Brasil, autoriza criar uma alíquota adicional à Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) para torná-la proporcional àquela adotada na participação no resultado da exploração de petróleo e gás natural (royalties). Com isso o limite atual de 4% passaria a 11%. “Mantendo a tributação atual intacta, o fundamento desta proposta é compensar os estados de produção mineral, fortemente afetados pela vedação à exportação”, justifica a emenda.

A proposta prevê também que a distribuição dos recursos seja repartida 75% para o Distrito Federal e os estados onde ocorrer a produção e 25% aos respectivos municípios, bem como o DF, nos moldes hoje da repartição de receita da cota parte do ICMS.

“Com a unificação dos impostos promovida pela reforma, os estados irão perder a principal fonte de arrecadação, que é o ICMS. Nós procuramos apresentar uma emenda que pudesse compensar essas perdas e não mexer no arcabouço central da proposta de reforma”, explicou Priante. Ele informou que a emenda foi entregue ao relator nesta quarta-feira, 5, e conta com o apoio da bancada do MDB, assim como conta com o apoio das bancadas de estados mineradores, como o Pará, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso, Bahia e Piauí.

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Especialistas debatem proibição do mercúrio na extração de ouro

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Foto: Ton Molina

Vários setores econômicos já abandonaram o uso do mercúrio devido a seu impacto na saúde das pessoas e no meio ambiente. Mas o metal continua a ser largamente utilizado na extração de ouro, especialmente na Amazônia. Apenas entre 2018 e 2022, 185 toneladas de mercúrio de origem desconhecida podem ter sido utilizadas nos garimpos do país.

Em debate realizado nesta terça-feira (7) pelo jornal Correio Braziliense em parceria com o Instituto Escolhas, representantes do poder público, empresários e pesquisadores concordaram sobre a necessidade de pôr fim ao uso de mercúrio nos garimpos, mas divergiram sobre o que precisa ser feito até sua erradicação e sobre a conveniência de uma proibição imediata.

Ao abrir o evento, Sergio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, destacou a importância de a discussão da erradicação do mercúrio e de alternativas viáveis economicamente a esse insumo da mineração acontecer às vésperas da COP30, que será realizada em novembro na cidade  de Belém (PA).

Primeiro convidado a falar, Eloy Terena, secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), afirmou que o garimpo ilegal está presente em 26 Terras Indígenas, de forma mais intensa e preocupante em quatro delas: Kayapó, Munduruku, Yanomami e Sararé. “O garimpo é vetor de violência, desmatamento, contaminação das águas e desestruturação social.”

Jair Schmitt, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, responsável pelas ações de fiscalização do órgão, listou as iniciativas tomadas pelo instituto no atual governo e usou uma imagem forte para falar da “explosão do garimpo ilegal na Amazônia” de 2017 a 2023. “Quando a gente olha as imagens dos satélites, o que a gente está vendo ali é a proliferação de um grande câncer”, afirmou.

 

Controles sobre o uso do mercúrio

Depois das falas inaugurais de Terena e Schmitt, teve início a primeira mesa do debate, que discutiu “Controles sobre o uso do mercúrio: desafios e perspectivas”. Renato Madsen Arruda, diretor substituto da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, afirmou que a PF tem como objetivo principal, ao lado de outros órgãos da administração pública, atacar o crime organizado que cerca a atividade da mineração ilegal.

“Não é aquele garimpeiro, aquele trabalhador braçal que está ali nos rincões da Amazônia que está acumulando essa riqueza. Há outros atores que estão acumulando essa riqueza e financiando a atividade. A estratégia da Polícia Federal tem sido principalmente descapitalizar esses atores que circundam a atividade da mineração ilegal e que enriquecem em prejuízo do meio ambiente e das comunidades que vivem na região amazônica”, disse Arruda.

O deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), autor de um projeto de lei que proíbe o uso do mercúrio em atividades de mineração, lembrou que durante os governos Michel Temer (2016 a 2018) e Jair Bolsonaro (2019 a 2022) a “atividade minerária ilegal explodiu de forma extraordinária”. E lamentou a força política de parlamentares que buscam flexibilizar a legislação do setor. “Há um lobby muito forte da mineração dentro do Congresso que, por vezes, trabalha de forma conjunta com o lobby da mineração ilegal”, disse.

Diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues destacou que o uso do mercúrio na mineração já é altamente regulado, citando a necessidade de licenciamento ambiental e de autorização, pelo Ibama, de sua importação – o Brasil não produz mercúrio. “O que a gente podia fazer em termos de regulação para tentar diminuir a periculosidade do uso dessa substância já foi feito.”

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Apesar disso, os resultados positivos não apareceram e é hora de “mudar a chave”. “Esse esforço que a gente precisa fazer para usar o mercúrio numa condição um pouco mais segura é tão grande que eu acho que a gente poderia pegar esse mesmo esforço e colocar nas alternativas”, disse. E a melhor alternativa é a “erradicação”, declarou.

“Acho que, de fato, a gente precisa caminhar em direção à proibição total do mercúrio na extração de ouro, como a gente fez em outros segmentos.” A pesquisadora parabenizou Nilto Tatto, a seu lado na mesa, por apresentar o projeto que proíbe o uso do mercúrio.

O último a falar na primeira mesa, Giorgio de Tomi, professor titular da Escola Politécnica da USP e Coordenador Técnico do Projeto Ouro Sem Mercúrio, defendeu a importância do Estado na mudança da realidade do garimpeiro que atua de forma ilegal. “Existe a vontade dos garimpeiros de mudar e evoluir”, afirmou. “Mas eles precisam de ajuda.”

“Hoje eles trabalham em regiões remotas, sem apoio nenhum. A única presença do Estado, quando tem, é na hora de reprimir, fiscalizar”. Para De Tomi, os que usam mercúrio no garimpo ilegal “precisam de apoio técnico, econômico e de Estado para facilitar essa transição”.

Três convidados falaram entre as duas mesas do debate. Julevânia Olegário, diretora do Departamento de Desenvolvimento Sustentável na Mineração (DDSM) do Ministério de Minas e Energia (MME), defendeu a eliminação do mercúrio nos garimpos, mas disse ser importante que o Estado brasileiro ajude a capacitar as pessoas envolvidas na extração de ouro, já que a “atividade é feita, na maioria das vezes, por comunidades tradicionais e vulneráveis”. Afirmou que é preciso fomentar alternativas ao mercúrio que sejam “economicamente viáveis”.

Diretora do Departamento de Qualidade Ambiental do Ministério de Meio Ambiente, Thaianne Resende alertou para o impacto do mercúrio na saúde e no meio ambiente. “O mercúrio é silencioso, invisível, mas deixa marcas profundas na saúde, na água e na floresta”, afirmou.

Miguel Castro, ponto focal regional para Latam e Caribe do Centro CER da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), destacou a preocupação da organização em estabelecer padrões elevados de políticas públicas entre os 38 países-membros e países parceiros, como o Brasil.

Para a OCDE, a estabilidade das cadeias de fornecimento deve caminhar junto com a sustentabilidade. “Essa visão reforça a necessidade de uma mineração responsável, não apenas como uma exigência, mas também como uma oportunidade de desenvolvimento inclusivo e a longo prazo.”

 

Alternativas ao uso do mercúrio

Abrindo a segunda mesa, que debateu “Alternativas ao uso do mercúrio: para onde vamos?”, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas, criticou a obrigação legal de que todo o ouro que sai dos garimpos precisa ser vendido para Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, as DTVMs. Cinco delas dominam hoje o mercado brasileiro de ouro.

“Nos últimos anos essas instituições financeiras que tinham ou que tem autorização do Banco Central comercializaram e financiaram o ouro ilegal que circulou pelo Brasil e ganhou o exterior”, afirmou. “Quando a gente fala de lavagem de ouro, essas instituições sempre foram um ponto de lavanderia.”

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A diretora do Escolhas defendeu a abertura de mercado, no qual uma indústria possa comprar diretamente de quem produz o ouro de forma responsável. “A gente não vai conseguir incentivar [as boas práticas] se a gente não tirar do meio do caminho as forças que até hoje só incentivaram o mercado ilegal.”

Larissa destacou ainda o fato de existirem hoje alternativas rentáveis ao mercúrio. “Muitas pessoas me perguntam: qual a alternativa ao mercúrio? Às vezes, a resposta não é tão complicada assim. Há algumas questões de tecnologia que às vezes são mais difíceis. Mas existem garimpos produzindo ouro sem mercúrio. Utiliza o quê no lugar? Nada. Utiliza água. A força mecânica da gravidade.”

Gilson Camboim, presidente na Federação das Cooperativas de Mineração do Estado de Mato Grosso, listou uma série de avanços tecnológicos que estão sendo desenvolvidos em centros de pesquisa e podem substituir o mercúrio – como o uso de nanopartículas de magnetita e o extrato das folhas do pau-de-balsa – e alguns que já estão sendo usados pelos garimpeiros – como o processo que une bombeamento de água e filtragem por meio de calhas.

Camboim destacou o papel do cooperativismo na busca de soluções que substituam o mercúrio. “O cooperativismo foi reconhecido pela ONU neste ano de 2025 como um mecanismo para o aprimoramento das atividades econômicas. Vamos lutar para conseguir chegar a este ponto, de eliminar o uso do mercúrio.”

Para Eduardo Gama, diretor de operação da startup Certimine, há muitos desafios para a substituição do mercúrio, um deles o fato de ser eficiente. “O mercúrio é muito tolerante e muito democrático. Aceita folha, areia. O que você alimentar, ele vai tirar ouro. O mesmo não pode ser dito sobre os outros métodos. Eu gosto de falar que o mercúrio é a força bruta, enquanto o resto é ajuste fino”.

Gama destacou a dificuldade de os pequenos mineradores irem para métodos mais sofisticados, pois não conseguem financiamento. “Eles ficam presos numa ratoeira, pois não conseguem migrar para outro regime. E precisam daquela atividade para sobreviver.”

Elena Crespo, professora titular da Universidade Federal do Pará e coordenadora do Instituto Amazônico do Mercúrio, lembrou que a Amazônia é responsável por 80% das emissões de mercúrio na América do Sul e a segunda região do mundo que mais emite a substância.  E destacou que o ouro não fica na Amazônia. “Mas somos os primeiros a receber todas as consequências, as mais graves.” Entre elas, danos ao desenvolvimento das crianças, que passam a ter problemas de aprendizagem. “Falamos aqui de comprometimento das gerações futuras.”

Crespo disse acreditar que os garimpeiros da Amazônia querem mudar esse panorama. “Ninguém quer se expor ou expor sua família simplesmente por ganância”, afirmou a pesquisadora. “Dando oportunidade para eles, vão tornar esse quadro muito mais sustentável.”

Assista à integra do debate no canal do Correio Braziliense no YouTube.

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